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- Author, Michael Emons
- Role, BBC Sport
Os jogadores da bela e minúscula ilha caribenha de Curaçao conseguiram algo inédito: vão levar a seleção masculina de futebol pela primeira vez para a Copa do Mundo.
A classificação para a Copa ocorreu após um empate com a Jamaica, de 0x0, nesta terça-feira (18/11).
A equipe é liderada pelo técnico Dick Advocaat, um holandês de 78 anos de idade. Ele já dirigiu, entre outras, a seleção da Holanda. Mas ele não pôde comparecer à partida contra a Jamaica por motivos pessoais.
O recorde atual é da Islândia, que disputou em 2018, na Rússia. Mas Curaçao é muito menor.
A ilha tem pouco mais de 150 mil habitantes — uma população equivalente, por exemplo, às cidades de Rio das Ostras (RJ) ou Santana de Parnaíba, vizinha à capital paulista — que moram em uma área do tamanho de Curitiba (PR).
“É uma loucura e seria um dos maiores feitos da história de Curaçao”, disse, antes da classificação, o meio-campista Juninho Bacuna — que nasceu em Groningen, na Holanda, e já jogou nos clubes britânicos Huddersfield Town, Birmingham e Glasgow Rangers.
Em entrevista à BBC Rádio 5 Live, ele destacou que “é maravilhoso e inacreditável. Ainda poucos anos atrás, você nem imaginaria isso, mas agora estamos muito próximos”.
“Certamente, queremos dar o melhor para nos classificarmos para a Copa do Mundo. Seria incrível fazer este sonho se tornar realidade.”
Curaçao fica a 60 km do litoral da Venezuela. O país só passou a existir como parte do Reino dos Países Baixos em 2010, após a dissolução das Antilhas Holandesas.
Dez anos atrás, Curaçao estava em 150° lugar no ranking mundial da Fifa. Agora, é o 82°.
O formato ampliado da Copa do Mundo de 2026, com 48 nações em vez de 32, e a classificação automática dos três países anfitriões (Canadá, México e Estados Unidos) ofereceram a Curaçao uma possibilidade muito maior de classificação.

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Advocaat em busca da vaga aos 78 anos
O homem que levou Curaçao à Copa do Mundo é um dos técnicos mais experientes do planeta.
Desde janeiro de 2024, o holandês Advocaat dirige pela oitava vez uma seleção nacional, após três passagens como técnico da Holanda, além dos Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, Bélgica, Rússia, Sérvia e Iraque.
Ele ajudou a Holanda a chegar às quartas de final da Copa de 1994, nos Estados Unidos. Já a seleção sul-coreana dirigida por ele foi desclassificada na fase de grupos em 2006, na Alemanha.
Advocaat também foi técnico de diversos clubes europeus, incluindo os holandeses Feyenoord e PSV Eindhoven, o Glasgow Rangers, da Escócia, o Zenit São Petersburgo, da Rússia, e o Sunderland, da Inglaterra.
Ele só passou a ser o técnico de Curaçao após a resolução de uma disputa sobre pagamentos entre os jogadores e a associação de futebol do país. E, imediatamente, ele começou a preparação rumo à Copa do Mundo de 2026.
Se ele continuar à frente da seleção de Curaçao, Advocaat passará a ser o técnico mais idoso a atuar em uma Copa do Mundo masculina, superando o recorde do alemão Otto Rehhagel, que dirigiu a Grécia aos 71 anos de idade em 2010, na África do Sul.
“Todos sabem que Dick Advocaat é um grande nome”, destaca Bacuna. “É um grande técnico e todos respeitam suas decisões e a forma como ele trabalha.”
“Sua presença é muito importante para nós como equipe e também para o país. Ele tem sido realmente uma grande influência.”
“Começamos a trabalhar com ele na classificação para a Liga das Nações e observamos o crescimento da equipe, na forma em que trabalhamos e disputamos os jogos”, segundo o jogador.
Talento holandês e passagens pelo Reino Unido

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Além do técnico holandês, a maioria dos jogadores da seleção de Curaçao nasceu na Holanda. Mas seus laços familiares permitiram que eles jogassem no time de Advocaat.
A equipe conta com um lateral do time escocês Livingston, Joshua Brenet, e vários jogadores de times ingleses. Eles incluem o meio-campista do Rotherham Ar’jany Martha, o atacante do Middlesbrough Sontje Hansen e o meio-campista do Sheffield United Tahith Chong, que nasceu em Curaçao e já jogou na Premier League, pelo Manchester United.
Para Bacuna, a seleção de Curaçao também ofereceu a chance de jogar partidas internacionais com seu irmão mais velho, Leandro, o capitão da equipe. Este foi um importante incentivo para ele, depois de ter jogado pela seleção holandesa sub-21.
“Comecei a jogar por Curaçao em 2019 e foi uma grande decisão para mim”, afirma Juninho Bacuna. “Na época, eu tinha apenas 21 anos e muito tempo pela frente, para jogar pela seleção nacional holandesa.”
“Mas tomei logo a decisão de jogar por Curaçao. Um dos motivos foi que posso jogar no mesmo time do meu irmão e a família pode nos ver jogar juntos.”
“A outra razão foi que, realisticamente falando, eu não tive chance de jogar pela seleção nacional holandesa na época”, ele conta.
“Vi muitos jogadores da minha idade jogarem pela seleção nacional da Holanda, mas eu não tive a chance de ser convocado. Por isso, decidi rapidamente jogar por Curaçao.”
Bacuna sente que o recente progresso futebolístico da ilha pode inspirar outros jogadores nascidos na Holanda a representar a equipe conhecida como A Família Azul.
“Estamos observando mais jogadores ainda jovens, capazes de jogar pela Holanda, vindo jogar por Curaçao — fortalecendo ainda mais a equipe”, destaca Bacuna.