O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira (27) a criação de um serviço militar voluntário de dez meses a partir do próximo verão para jovens entre 18 e 19 anos que servirão apenas em missões no território nacional.
Inicialmente, três mil jovens ingressarão no serviço militar voluntário, número que deve aumentar para 10 mil em 2030 e, “dependendo da ameaça”, para 50 mil em 2035, disse o chefe de Estado francês em discurso no quartel de Varces, nos Alpes franceses.
“A juventude aspira à liberdade e tem sede de compromisso”, afirmou Macron antes de destacar que a criação deste “serviço nacional” se insere em um movimento geral que está ocorrendo na Europa.
“Em um momento em que todos os nossos aliados europeus avançam diante de uma ameaça que pesa sobre todos nós, a França não pode permanecer imóvel. Precisamos da mobilização da nação para se defender, não contra este ou aquele inimigo, mas para estar preparada e ser respeitada”, afirmou Macron.
Esses novos voluntários “servirão no território nacional e apenas no território nacional”, enfatizou o mandatário diante da polêmica gerada nos últimos dias por uma declaração do chefe do Estado-Maior do Exército, Fabien Mandon, sobre o fato de que, diante da ameaça da Rússia, a França tinha que estar disposta a “aceitar perder seus filhos”.
O presidente francês esclareceu que será o Exército que selecionará os futuros recrutas entre “os mais motivados e aqueles que melhor respondem às suas necessidades”.
Os candidatos manifestarão na chamada “jornada de mobilização”, para a qual todos os jovens são convocados. Do total de dez meses de serviço militar, o primeiro será dedicado à capacitação geral, durante o qual aprenderão os rudimentos militares, a marchar e o manuseio básico de armas.
Os nove meses seguintes serão passados em uma unidade militar, onde os jovens compartilharão a vida e as atividades com o restante dos militares profissionais, com a única exceção de que não serão enviados para missões no exterior.
Os voluntários receberão o equipamento necessário e também um salário que o presidente não quantificou, mas que, pelo que foi vazado pela imprensa, pode ser de cerca de 1.000 euros por mês.
O que Macron disse é que o custo estimado será de mais de 2 bilhões de euros, que serão financiados graças ao aumento dos fundos do departamento de Defesa na lei de programação militar de 2026 a 2030.
O chefe de Estado enfatizou que a França não esperou até 2022 e a invasão russa da Ucrânia para modernizar e reforçar suas forças armadas, mas que, desde que chegou ao Palácio do Eliseu em 2017, tem trabalhado nesse sentido, o que permite ao seu país “ter o exército mais eficaz da Europa”.
O Palácio do Eliseu lembrou que o orçamento da defesa será duplicado quando comparada a 2017 e 2027, passando de 32 bilhões de euros para 64 bilhões.
O presidente descartou o retorno ao serviço militar obrigatório, que desapareceu na França em 1996 porque, com o fim da Guerra Fria, deixou de ser “útil”, pois “não corresponde às necessidades do nosso exército nem às ameaças”.
No entanto, Macron deixou uma porta aberta para obrigar o ingresso de jovens nas forças armadas, caso o Parlamento assim decida “em casos excepcionais”.
Depois que os jovens voluntários concluírem seu serviço militar de dez meses, poderão continuar seus estudos ou iniciar a vida profissional, para o que o Exército os ajudará, e integrarão a reserva operacional. Também terão a possibilidade de continuar nas forças armadas como profissionais.
Um dos objetivos desse novo serviço é justamente fortalecer a reserva, da qual atualmente fazem parte cerca de 45 mil pessoas, para chegar a 80 mil em 2030.
Dessa forma, a França pretende constituir um “modelo híbrido” de exército que, na opinião de Macron, deve ser privilegiado diante de “um mundo incerto”.