Ao divulgar nesta semana seu plano de 28 pontos para um possível acordo de paz no conflito em curso no leste europeu, os Estados Unidos recolocaram a região do Donbass, na Ucrânia, no centro das negociações. O documento, que já está sendo negociado tanto por Kiev quanto por Moscou, define propostas específicas para o futuro de Donetsk e Luhansk – as duas províncias que compõem a região – e transformou a questão territorial no ponto mais sensível das conversas, por envolver ao mesmo tempo a espinha dorsal industrial da economia ucraniana e a principal “prioridade estratégica” do Kremlin.
A proposta dos EUA inclui reconhecer como russas partes do Donbass ainda sob controle ucraniano – além das áreas já ocupadas ilegalmente pelas forças de Moscou. Nesta semana, o ditador Vladimir Putin afirmou a jornalistas que o status jurídico tanto da Crimeia quanto do Donbass é “um dos tópicos-chave” para a formalização de um acordo de paz, segundo noticiou a agência Reuters.
O Donbass é considerado o coração industrial da Ucrânia. De acordo com análises citadas pela Fox News, a região concentra setores essenciais como mineração, siderurgia, produção de aço, extração de sal e uma das maiores reservas de gás não explorado da Europa – o campo de Yuzivka, com potencial de até 4 trilhões de metros cúbicos. Antes da guerra, estudos do Center for Economics and Business Research de Londres, no Reino Unido, mostravam que Donetsk e Luhansk respondiam por cerca de 15% do PIB ucraniano e eram responsáveis por parte significativa das exportações do país.
Para Kiev, perder completamente o Donbass significaria abrir mão de sua principal base de produção industrial e de uma das áreas mais ricas em recursos naturais do país – um fator crítico em um momento em que a reconstrução já é estimada em US$ 524 bilhões, conforme avaliação conjunta da ONU, Banco Mundial, Comissão Europeia e governo ucraniano. Além disso, o Donbass abriga a chamada “fortress belt”, rede de cidades fortificadas e linhas defensivas que sustentam a resistência ucraniana contra as forças russas no leste do país desde 2014.
Por sua vez, Moscou tem interesse em controlar o território desde 2014. Além dos recursos minerais e energéticos, o domínio do Donbass daria à Rússia influência direta sobre o futuro econômico ucraniano, já que siderúrgicas, minas de carvão, sal e possíveis campos de gás têm peso na capacidade de Kiev financiar sua própria reconstrução. Analistas ouvidos pela Fox News afirmam que a posse do território daria ao Kremlin “alavancagem poderosa” sobre a sobrevivência financeira da Ucrânia.
“O Donbass oferece tanto uma vantagem militar quanto recursos econômicos significativos, tornando-o um alvo de alto valor para o Kremlin”, disse à Fox News a pesquisadora Elina Beketova, do think tank Center for European Policy Analysis (CEPA)
Em publicação na Truth Social na terça-feira (25), o presidente Trump disse que o plano de 28 pontos apresentado pelos EUA já foi “refinado” após contribuições tanto de Moscou quanto de Kiev e determinou o envio de seu enviado especial, Steve Witkoff, para novas conversas com Putin, enquanto o secretário do Exército, Dan Driscoll, mantém contato direto com a delegação ucraniana. Trump disse que só pretende se reunir pessoalmente com Zelensky e Putin quando o texto do acordo estiver “finalizado ou em seus estágios finais”, reforçando que deseja que “a paz seja alcançada o mais rápido possível”.