Crédito, AFP via Getty Images
- Author, Leandro Prazeres
- Role, Enviado da BBC News Brasil a Belém
Delegações de 194 países vão discutir, pelos próximos 11 dias, o futuro do clima no planeta e medidas para evitar os efeitos da mudança do clima no planeta.
Trata-se, segundo diplomatas brasileiros, do maior investimento da política externa brasileira no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
E em seu discurso na cerimônia de abertura, Lula aproveitou o evento para fazer cobranças por metas ambientais mais ousadas, defender medidas do seu próprio governo na área ambiental e criticar o que chamou de “negacionismo climático” logo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticar a realização da COP30.
Com o discurso, Lula encerrou sua participação na COP30 até o momento. O evento vai até o dia 21 de novembro e é possível, embora não haja confirmação, que ele volte à cidade a depender do andamento das negociações.
Veja, em três pontos, os principais destaques do discurso de Lula na abertura da COP30:
Crítica a negacionismo climático
Um dos pontos mais contundentes do discurso de Lula foi o que ele criticou os chamados “negacionistas” do clima.
“Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, disse Lula.
A fala de Lula não menciona diretamente Donald Trump, mas acontece em meio à ausência do presidente americano à COP30 e um dia depois de ele usar suas redes sociais para criticar a realização da conferência.
“Eles destruíram a floresta tropical do Brasil para construir uma rodovia de quatro pistas para os ambientalistas viajarem. Isso se tornou um grande escândalo”, escreveu o presidente americano em seu perfil na rede social Truth Social.
A ausência de Trump na conferência é vista como um obstáculo para o avanço das negociações sobre o futuro do clima porque os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases do efeito estufa do planeta, atrás apenas da China.

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Cobrança por ambições
Lula também aproveitou seu discurso para cobrar dos países que participam da COP30 que cumpram os compromissos firmados nas conferências anteriores.
Além do aspecto climático, a cobrança também tem um viés político, uma vez que há uma preocupação no governo para que a conferência não termine sem resultados concretos.
“Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr”, disse Lula em seu discurso.
Um dos pontos que mais preocupam a delegação brasileira e os cientistas que estudam as mudanças no clima é a considerada falta de ambição nas metas para redução de emissões dos gases do efeito estufa anunciadas pelos países.
Essas metas são conhecidas como contribuições nacionalmente determinadas, ou NDCs, na sigla em inglês.
Dos 195 países signatários do Acordo de Paris, apenas 79 haviam entregue suas NDCs até o início da COP30, o equivalente a 64% do total.
Além disso, há uma preocupação sobre a qualidade das metas que já foram entregues.
O objetivo do Acordo de Paris era que o mundo reduzisse suas emissões de gases do efeito estufa para limitar o aquecimento global a menos de 1,5ºC em comparação com os níveis pré-industriais.
Apesar disso, um estudo divulgado pelo Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA) divulgou um estudo no início deste mês indicando que o mundo continua caminhando para um aumento de temperatura entre 2,3ºC e 2,5ºC considerando as metas já entregues.
Legado da COP30
Um terceiro ponto abordado por Lula foi voltado para o público interno. Ele defendeu, em seu discurso, a escolha de Belém como sede da COP30.
Essa defesa acontece em meio às dúvidas sobre se a capital paraense teria ou não capacidade de receber o evento em função dos preços altos cobrados por hospedagens na cidade nos meses que antecederam a realização do evento.
“Fazer a COP aqui é um desafio tão grande quanto a gente acabar com a poluição do planeta Terra. Seria mais fácil fazer a COP numa cidade acabada, numa cidade que não tivesse problemas. E nós resolvemos aceitar o desafio de fazer a COP num Estado da Amazônia“, disse Lula.
Uma das principais críticas à realização da COP30 em Belém foi a chamada crise de hospedagem resultante nos meses que antecederam o evento.
Diversas delegações encontraram dificuldades para encontrar hotéis ou pousadas e algumas tiveram que se hospedar em casas adaptadas, apartamentos, motéis e até mesmo em navios que vieram à cidade especialmente para o evento.
Outro ponto defendido por Lula em seu discurso foi o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, também conhecido por sua sigla em inglês: TFFF (Tropical Forest Forever Facility).
O fundo foi lançado pelo governo brasileiro na semana passada, durante uma cúpula de chefes de Estado anterior à COP30.
Segundo o governo, o fundo funcionará como uma espécie de investimento em renda fixa feito pelos investidores, que podem ser tanto países como empresas ou entidades filantrópicas.
Os juros obtidos com esse investimento seriam repassados aos investidores e uma parte desse lucro seria revertida para projetos em países detentores de florestas tropicais como o Brasil.
A meta inicial do governo era arrecadar US$ 25 bilhões, mas após o lançamento, o fundo conseguiu obter US$ 5,5 bilhões.

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Nos bastidores, membros do governo rebatem a ideia de que o lançamento do fundo teria sido um fracasso alegando que ele está em sua fase inicial e que haveria diversos países negociando investimentos no mecanismo.
Até agora, os países que já anunciaram investimentos foram: Brasil (US$ 1 bilhão), Indonésia (US$ 1 bilhão), Noruega (US$ 3 bilhões), Portugal (1 milhão de euros) e França (500 milhões de euros).
Em seu discurso, Lula repetiu o argumento que seus auxiliares mencionavam nos bastidores.
“Lançamos o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, um mecanismo inovador que angariou, num só dia, US$ 5,5 bilhões em anúncios de investimento”, disse.