Cientistas climáticos criticaram a versão sendo votada do “Mutirão Global”, o principal texto decisório da COP30. O documento não menciona a descontinuação do uso de combustível fóssil, frustrando as expectativas nutridas pelo presidente Lula. Os pesquisadores afirmam que “apesar dos melhores esforços do Brasil e de muitos países que trabalharam para unir o mundo em torno de um roteiro para acabar com nossa dependência de combustíveis fósseis, forças contrárias bloquearam o acordo”.
“Elas parecem ignorar que, ao contrário dos pavilhões da COP, não podemos evacuar o planeta Terra quando desastres acontecem”, diz o documento. A declaração referência o incêndio ocorrido em Belém na quinta-feira.
Segundo os pesquisadores, “uma transição energética alinhada à ciência exige liderança, coragem e coerência. Devido ao fracasso, até agora, em implementar o Acordo de Paris, o ritmo necessário de mudança é extremamente elevado.
Assinam a carta o brasileiro Carlos Nobre, do Painel Científico para a Amazônia; Fatima Denton, da United Nations University; Johan Rockström, do Potsdam Institute for Climate Impact Research; Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira; Paulo Artaxo, Universidade de São Paulo (USP); Piers Forster, da University of Leeds; e Thelma Krug, presidente do Conselho Científico da COP30.
“A ciência está, e continuará aqui para ajudar. Trabalhando com a Presidência brasileira, vamos propor a criação de um Painel Científico sobre a Transição Energética Justa e o Fim dos Combustíveis Fósseis, para subsidiar o Acelerador Global de Implementação”, afirmam os pesquisadores.
O texto de oito páginas, construído a partir de uma demanda de países que reclamaram de itens importantes que estavam fora da agenda oficial da COP30, nem sequer menciona a expressão “fóssil”, algo que alguns analistas leem como retrocesso em relação a decisões de outras conferências.
Uma outra omissão já esperada no texto é o chamado de alguns países que queriam antecipara a revisão das chamadas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), as promessas oficiais de redução de emissões gases do efeito estufa de cada nação. As NDCs atuais são insuficientes para conter o objetivo de conter o aumento de temperatura a no máximo 1,5°C, e alguns países queriam antecipar as novas revisões previstas para 2030.