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domingo, novembro 23, 2025

Entrevista: Paulo Artaxo vê ‘vitória do lobby do petróleo’ na COP30 e defende abandono da obrigação de consenso para decisões

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O físico Paulo Artaxo é um dos pesquisadores que esteve presente na COP30 e foi signatário de uma carta do setor que lamenta a ausência do plano para descontinuação do uso de combustível fóssil no texto final da conferência. Após o fim do evento, em entrevista ao GLOBO, o cientista afirma que essa omissão se deve ao cenário no qual o “lobby da indústria do petróleo acabou vencendo os interesses da população mundial” e propõe mudanças no funcionamento de tomada de decisões estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A COP30 cumpriu a promessa da implementação?

É uma questão complexa. O presidente da conferência, André Corrêa do Lago, enfatizou desde o início que esta deveria ser a cúpula da implementação de ações, com a construção do “mapa do caminho” para a eliminação dos combustíveis fósseis como prioridade. O problema é que isso colide com os mecanismos de decisão da ONU, que prevê a necessidade de consensos e, obviamente, o mundo está muito complexo hoje em dia e a dificuldade geopolítica complica as negociações. Basta um grupo de países bloquearem uma decisão para que ela não possa ser incluída no documento final.

O senhor acredita que essa exigência de consenso atrapalha avanços nas COPs?

Sim. Os países ali não estão defendendo exclusivamente as questões científicas. Eles pensam em interesses econômicos das indústrias de petróleo, por exemplo, o que torna muito difícil se obter consenso. É um cenário no qual cada país só olha para o que pode ganhar e o que pode perder, sem levar em conta que bilhões de pessoas do planeta terão uma vida muito mais complicada com o agravamento das mudanças climáticas. Um dos caminhos para frear isso seria a COP trabalhar com maioria e não com consenso na tomada de decisões.

O senhor acredita que a ausência de ao menos uma citação aos combustíveis fósseis no documento final indica um retrocesso com relação a COP28, quando isso ocorreu, no texto?

Uma vez que esse tema foi aprovado na COP28, ele permanece aprovado. Então, não há retrocesso. O que se tentou fazer na COP30 é implementar ações para que a gente possa abrir mão dos fósseis com uma rota ajustada e segura. E, com isso, se implementar a transição energética que, de uma forma ou outra, os países já estão fazendo. No caso brasileiro, a ciência aponta que precisamos acelerar esse processo e acabar com a exploração de combustíveis fósseis até 2040. Quanto mais cedo isso ocorrer melhor para o clima do planeta, com menos danos às populações vulneráveis e trará melhoria nas economias de cada país.

Quais foram os erros e acertos da presidência brasileira na COP30?

A equipe brasileira acertou ao focar na agenda de ação e ao destacar que essa deveria ser a COP da implementação de medidas. Agora, o Brasil é um entre os 196 países signatários da Convenção do Clima, e não decide sozinho. O lobby da indústria do petróleo acabou vencendo os interesses da população mundial, que deseja um clima previsível e estável, no qual se possa produzir alimentos com alta produtividade e assim por diante. A indústria do petróleo bloqueou essa possibilidade para que eles consigam um lucro máximo possível em um menor espaço de tempo.

Qual o saldo final da COP30? A ciência foi ouvida?

A questão climática é certamente a mais complexa que a humanidade terá de lidar nas próximas décadas. Eu preferia que essa COP tivesse sido encerrada com o “mapa do caminho” acordado, mas o mecanismo de funcionamento da ONU impediu que essa decisão constasse no documento final. Isso precisa mudar, mas a resistência é muito grande. Como ponto positivo, por outro lado, posso dizer que essa foi a primeira COP na qual a questão dos combustíveis fósseis foi uma questão central, sendo que sequer foi discutida em Baku, no ano passado.

[Fonte Original]

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