O segundo dia do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de 2025 teve pelo menos cinco questões sobre meio ambiente, uma temática que costuma aparecer com frequência na prova de Ciências da Natureza. Neste ano, os candidatos precisaram responder sobre mudanças climáticas e sobre medidas de separar a água do óleo em caso de poluição.
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A avaliação de professores é que, neste dia, o volume de textos foi menor do que o costume. Por outro lado, mais da metade da prova de Matemática possuía algum tipo de recurso imagético, como tabelas, por exemplo. De acordo com Fernanda Abreu, editora de avaliação do SAS Educação, duas questões usavam dois gráficos cada para as perguntas.
A prova de Matemática deixou de fora alguns assuntos recorrentes no Enem, como progressão aritmética e geométrica. No entanto, logaritmo, análise combinatória e probabilidade apareceram, como o esperado.
— No geral, o nível de dificuldade da prova foi o nível do intermediário ao difícil, porque ela trazia algumas questões que você precisava ter algum tipo de habilidade específica para resolver, mas também trouxe questões de mera interpretação e análise, que fazia com que também essas questões pudessem ser resolvidas com tranquilidade — afirmou Wagner Araújo, coordenador de Matemática do Elite Rede de Ensino.
De acordo com Fernando Roma, professor de Biologia da Escola SEB AZ Lafaiete, das 15 questões de Biologia, prevaleceram as de ecologia, como já era esperado, com assuntos também bastante comuns, como eutrofização e mitigação do efeito estufa.
— Três questões de Zoologia, duas questões de Genética, uma envolvendo Biotecnologia, duas questões de Fisiologia Humana, sendo uma delas uma questão de vacina cobrando efeito dos antígenos e duas questões de citologia. Chamou atenção a ausência de questões de botânica — afirmou.
De acordo com o professor Lincoln Ribeiro, do Elite Rede de Ensino, a prova de Física desse ano teve duas questões sobre circuitos elétricos, uma que cobrava cinemática vetorial e uma envolvendo campo elétrico — um padrão idêntico ao que ocorreu em 2024.
Em Química, a professora Caroline Azevedo, do Cubo Global School, diz que a prova veio mais conteudista que ano passado, mas com a repetição de alguns temas, como moxidação de álcool.
— Polaridade em compostos orgânicos, que é um conteúdo que aparece todos os anos, continuou aparecendo. A prova veio muito bem dividida em química orgânica, físico-química e química geral — diz.
Saiba como foi o primeiro dia
O primeiro dia do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) 2025 foi marcado pelo maior texto já incluído em uma edição das provas desde 2009, quando a avaliação foi remodelada para se tornar o principal vestibular do país, e também por questões sobre as diferenças entre gerações. Além da Redação, foram 90 questões de Linguagens e Ciências Humanas. No próximo domingo, serão outras 90, de Matemática e Ciências da Natureza.
— O Enem deste ano destacou bem a convivência entre idades e trouxe uma reflexão importante sobre o envelhecer e o papel das gerações na construção da sociedade — avaliou Alysson Franco Abrantes, professor dos colégios Start Anglo Bilingual School e St. Georges.
O tema da Redação, por exemplo, foi “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. E, justamente nesse ano, o número de pessoas inscritas com mais de 60 anos foi o maior desde 2009, com mais de 17 mil participantes. Ao todo, 3,5 milhões de candidatos fizeram o Enem, que registrou abstenção de 27% entre os 4,8 milhões de inscritos — índice similar ao do ano passado, quando foi de 26,6%.
Como texto de apoio, a prova citou frases de Rita Lee (“A velhice não é doença. É destino”) e de Fernanda Montenegro (“A velhice é o tempo em que a vida já foi vivida e, por isso mesmo, pode finalmente ser olhada de frente, sem o pânico do ineditismo”).
Na avaliação da antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mirian Goldenberg, a escolha do tema é um marco da conscientização sobre a invisibilização dos idosos.
— Acho maravilhoso uma prova feita por estudantes em sua maioria adolescentes propor um tema sobre envelhecimento — celebra. — Isso mostra como os problemas enfrentados pelos velhos brasileiros estão mais visíveis do que nunca.
Diferentes questões também abordaram o tema. A prova de Inglês, por exemplo, tratou sobre a “snowflake generation” — geração floco de neve, em tradução livre — que, segundo o Dicionário de Cambridge, é uma forma de se referir a uma geração de jovens “que algumas pessoas consideram se chatear e se ofender com muita facilidade”.
— Comumente usado de forma crítica, esse termo designa jovens percebidos como mais sensíveis, menos resilientes ou que se ofendem facilmente diante de visões divergentes — explica Renato Júdice, diretor de Ensino e Inovações da plataforma de educação COC. — O Enem está pedindo que o estudante reconheça as mudanças culturais das gerações.
O tema voltou a aparecer na prova de Espanhol, que usou um texto da BBC para definir a geração alfa — os nascidos a partir de 2010 — como um grupo determinado pelo “uso de telas”, e não mais por seus “sucessos históricos”.
Já o texto “De próprio punho”, da escritora mineira Ana Elisa Ribeiro e publicado na revista Rascunho, ocupou toda a primeira página da prova de Linguagens — algo inédito desde 2009 — e retratou outra transformação entre gerações. Em 45 linhas e 2.863 caracteres, ele relata, de forma lúdica, como a escrita à mão entrou em desuso e foi substituída gradualmente pela tecnologia.
“A escrita e suas tecnologias incríveis vão se reposicionando, mudando de status, numa ciranda interessante e importante que pode ser vista à luz de certa diversidade que encontra suas oportunidades e seus efeitos, aqui e ali”, diz a autora em sua obra. O texto serviu de base para cinco questões — recurso recorrente nos antigos vestibulares tradicionais, mas que nunca havia sido utilizado no Enem.
Levantamento do GLOBO mostra que nenhum outro texto do Enem passou de dois mil caracteres — o segundo maior apareceu em 2010, um editorial do jornal “Folha de S. Paulo”, de 1.904 caracteres.
— O texto deste ano teve até as linhas numeradas, parecendo bem o formato dos antigos vestibulares. Para o Enem, ele é gigante — afirmou Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Plataforma de Educação.
As questões também abordaram temas atuais, como a saúde mental das medalhistas olímpicas Rayssa Leal e Rebeca Andrade, violência de gênero nas escolas e pressão estética sofrida por atrizes como Margot Robbie, de “Barbie”, e Paolla Oliveira. A prova ainda deu destaque à diversidade cultural com textos sobre dança gospel, língua dos santos e orixás, além do uso medicinal do urucum e da primeira cacique mulher do Brasil.
Na véspera da COP30, a ecologia apareceu como tema recorrente. Foram abordados sustentabilidade, emissão de CO₂, sistemas de monitoramento de queimadas no Cerrado e uso de energia limpa.
— O primeiro dia do Enem apresentou provas equilibradas e de leitura extensa, mas com nível de dificuldade moderado. O conjunto das questões manteve o foco em temas sociais, culturais e linguísticos, sem polêmicas. As leituras exigiram atenção e interpretação cuidadosa — avaliou Thatiane Hecht, professora de Linguagens do Elite Rede de Ensino.
No início da noite, o ministro da Educação, Camilo Santana, minimizou a taxa de abstenção de um quarto dos candidatos, patamar estável desde 2022:
— Foi tudo muito tranquilo.