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terça-feira, dezembro 2, 2025

Regeneração, reciclagem e créditos de carbono: as apostas do setor privado na COP30

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Além de governos e órgãos institucionais, a COP30, em Belém, contou com participação ativa do setor privado. Na blue zone, espaço de negociação entre países, na green zone, aberta à sociedade civil, e em espaços pela cidade, empresas de vários setores aproveitaram a conferência para dialogar com autoridades, apresentar projetos e estreitar relações com outras companhias e executivos.

Na última semana do evento, representantes de coalizões empresariais entregaram uma carta à CEO da COP30, Ana Toni, e ao Campeão Climático, Dan Ioschpe. O documento, assinado por entidades como World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Sustainable Business COP (SB COP) e We Mean Business Coalition, afirmou que o setor privado está “disposto a assumir um papel mais ativo na próxima década da agenda climática” e apontou a COP30 como “um ponto de virada” na implementação do Acordo de Paris.

A Nestlé levou iniciativas ligadas a sistemas alimentares regenerativos e apresentou ações para suas cadeias de café, cacau e leite. No primeiro dia da conferência, firmou acordo com a Embrapa para desenvolver pesquisas que visam reduzir emissões nessas cadeias. A parceria envolve estudos de genética, sistemas agroflorestais e outras práticas regenerativas. “A COP pode acelerar muito os nossos planos, especialmente se conseguirmos engajar outras empresas, institutos e governos”, afirmou Marcelo Melchior, presidente da Nestlé Brasil.

A JBS centrou sua atuação em debates sobre segurança alimentar, inclusão produtiva e mitigação de emissões. Embora não tenha anunciado novas metas, o CEO global, Gilberto Tomazoni, participou de painéis e liderou o Grupo de Trabalho sobre Sistemas Alimentares Sustentáveis da SB COP. Para ele, a adoção de práticas sustentáveis depende de viabilidade econômica. “Sustentabilidade sem produtividade não existe”, disse. “Se queremos falar da fome, temos que falar de agricultura.” Segundo Tomazoni, o desafio é ampliar o uso de tecnologias já disponíveis e garantir assistência técnica e financeira ao produtor.

A Ajinomoto também levou o tema para o centro das discussões. Para o CEO global, Shigeo Nakamura, Brasil e Japão podem criar um mecanismo conjunto de créditos de carbono para a pecuária de baixo carbono, permitindo que produtores brasileiros vendam créditos no mercado japonês. “Isso pode fortalecer as ações climáticas dos dois países”, afirmou. Um estudo do ICC Brasil e da WayCarbon estima que o Brasil pode atender até 48,7% da demanda global por créditos voluntários até 2030, movimentando mais de 120 bilhões de dólares.

A empresa negocia com ministérios japoneses o uso de fertilizantes e suplementos de aminoácidos que reduzem emissões. Se adotadas no Brasil e comprovadas as reduções, os créditos poderiam ser negociados nos dois países. Na COP30, a Ajinomoto e o Banco do Brasil assinaram um memorando para ampliar o acesso de pecuaristas a essas tecnologias, começando pelo aditivo AjiPro-L, que reduz o excesso de proteína nas rações e diminui gases de efeito estufa.

Para a Braskem, a indústria tem papel decisivo na transição climática. O CEO Roberto Ramos destacou o potencial dos plásticos de origem renovável e da bioeconomia. “A conferência global é uma oportunidade para mostrar o potencial do Brasil na bioeconomia e na transição energética”, afirmou. A companhia também defendeu políticas públicas que incluam produtos renováveis nas NDCs, reforçando sua importância para as metas climáticas.

O CEO global da empresa norueguesa de energia renovável, Scatec, Terje Pilskog, acredita que o Brasil tem oportunidades na transição, mas ainda enfrenta entraves regulatórios. “Isso acaba criando alguns desafios para empresas que querem trazer novos projetos a curto prazo”, disse. Para ele, o ritmo global é insuficiente. “Acho que todos sabemos que estamos atrasados se quisermos chegar ao net zero.” A empresa apresentou seu primeiro projeto de reciclagem de painéis solares, com 4,7 mil módulos da usina de Mendubim, no Rio Grande do Norte, enviados para reprocessamento em São Paulo, o equivalente a 100 toneladas. A iniciativa evitou o envio de mais de 420 metros cúbicos a aterros.

Mas uma empresa não deve só focar na sustentabilidade em sua cadeia produtiva, toda a equipe precisa estar em sintonia. De olho nisso, com remuneração variável, parte dos salários de executivos da Electrolux Global está ligada ao cumprimento de metas de sustentabilidade. Segundo o executivo-chefe da empresa no Brasil, Leandro Jasiocha, essas metas são essenciais para orientar decisões que consideram também o impacto ambiental das operações.

Desde 2020, 20% dos bônus chamados de incentivos de longo prazo estão atrelados a metas climáticas para mais de 250 executivos do grupo. Para o executivo, sustentabilidade e lucro devem caminhar juntos sempre. “A empresa precisa se manter rentável para continuar atuando com sustentabilidade. Não é um ou outro. É equilíbrio”, afirmou. A companhia foi premiada no evento paralelo Sustainable Business COP pelo projeto Greenhouse Sthlm Development, em Estocolmo. O projeto premiado combina moradia, trabalho e convivência em uma área de 85 mil metros quadrados e inclui apartamentos com eletrodomésticos eficientes, madeira certificada e concreto de baixo carbono.

A Natura segue lógica parecida, com metas socioambientais integradas à remuneração dos executivos. Com mais de duas décadas de atuação na Amazônia, a companhia levou à COP uma agenda orientada pelo conceito de regeneração. “Sustentar o mundo como ele é hoje já não dá conta dos desafios globais. É preciso restaurar, recuperar, regenerar”, afirmou o CEO João Paulo Ferreira. Segundo ele, a conferência tem servido para ampliar o diálogo e mostrar soluções escaláveis ligadas à bioeconomia e ao clima.

A Siemens também apresentou iniciativas voltadas à Amazônia por meio do programa Tech4Amazonia, que conecta startups, instituições científicas e comunidades locais. Quatro provas de conceito (PoC) foram selecionadas para a COP30. “Esta é a COP da implementação. Estamos demandando do planeta muito mais do que ele consegue entregar”, disse Pablo Fava, CEO da Siemens Brasil. A empresa anunciou parceria com a Natura na PoC Moiru, que utiliza sensores e um gêmeo digital para monitorar dornas usadas na extração de óleos essenciais pela cooperativa Aprocamp, permitindo reduzir desperdícios e padronizar lotes.

O setor de saúde também trouxe seus desafios nas mudanças climáticas. Temperaturas mais altas, poluição e eventos extremos já ampliam casos de doenças respiratórias, cardiovasculares e infecciosas, por exemplo. “Não há como falar em saúde sem considerar o impacto das mudanças climáticas”, afirmou o presidente do Hospital Albert Einstein, Sidney Klajner.

Para a conferência, o hospital levou a plataforma Mais (Meio Ambiente e Impacto na Saúde), que integra dados ambientais, de saúde e indicadores sociais para prever efeitos climáticos no atendimento. O projeto usa big data e inteligência artificial para antecipar demandas. “Se sabemos de antemão o que acontece em uma queimada, é possível prever a demanda e preparar melhor hospitais e população”, disse.

[Fonte Original]

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