24.5 C
Brasília
terça-feira, dezembro 16, 2025

Crítica | Batman: Gotham 1893 – A Era Kryptoniana – Plano Crítico

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

A HQ Batman by Gaslight, de 1989, publicada originalmente por aqui como Um Conto de Batman: Gotham City 1889, foi retroativamente considerado pela DC Comics como a primeira história do selo Elseworlds (a primeira a ser efetivamente publicada já com o selo foi Batman: Terror Sagrado). Não que universos paralelos já não existissem nos quadrinhos décadas antes, mas a iniciativa rendeu bons frutos, inclusive a continuação direta de Gotham City 1889, Mestre do Futuro, sendo encerrada em 2003, revivida brevemente 2010 e enterrada até 2024, com o lançamento de Batman: Gotham 1893 – A Era Kryptoniana, primeira parte de uma maxissérie de 12 edições passada no mesmo universo do Batman vitoriano, trazendo o selo novamente à vida, com projetos anunciados para outras histórias que, claro, teremos que aguardar para ver se realmente acontecem.

O objetivo maior de A Era Kryptoniana é expandir o universo super-heróico do Homem-Morcego vitoriano para introduzir o maior número possível de novas versões de personagens clássicos, sejam eles super-heróis, super-vilões ou meramente civis de forma a permitir que a história da formação da Liga da Justiça seja contada na segunda parte, batizada lá fora de A League for Justice, cuja tradução literal é Uma Liga pela Justiça, estratégia que foi tentada no audiovisual com resultado no mínimo duvidoso com Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Mesmo que uma minissérie em quadrinhos tenha proporcionalmente mais espaço para manobra para algo assim, a inexplicável vontade de derramar uma infinidade de personagens em apensa seis edições cobra seu preço, especialmente no que diz respeito à mitologia macro que bebe das teorias conspiratórias que existem desde sempre sobre civilizações altamente tecnológicas que existiram por aqui em priscas eras e que sumiram completamente, sem deixar sinais.

Se Andy Diggle tivesse se contentado com o “menos é mais” e não com o “muito mais ainda é pouco demais”, seu A Era Kryptoniana poderia ser uma fascinante exploração dessas teorias que, na minissérie, dão até mesmo ao Superman uma origem terrena (pelo menos nessas seis edições, pois pode ser que isso mude com a minissérie seguinte, claro), criando a tal era do título como se fosse a Hiperbórea grega famosamente arregimentada, dentre outros, por Robert E. Howard. Essa história em particular é contada por meio dos diários de Adam Strange, capitão de uma expedição marítima à Antártida bancada por Bruce Wayne nos moldes das de tantos navegadores como Ernest Shackleton, justamente para pesquisar ou desbancar a Era Kryptoniana, em que ele acaba descobrindo ruínas povoadas por monstros, sendo salvo por ninguém menos do que a Mulher-Maravilha, que ganha uma origem misteriosa, mas definitivamente interessante.

Infelizmente, porém, essa história e também a de Batman e Mulher-Gato (esta com um belo uniforme que lembra o do Zorro) enfrentando a Liga das Sombras de Talia e Ra’s al Ghul que está atrás do mítico anel de Jong Li que, para quem se lembra, foi um Lanterna Verde chinês do século VII, vão sendo continuamente relegadas a segundo plano de maneira que o leitor seja apresentado ao Estranho (que se revela como outro personagem mais para a frente), John Constantine, Lex Luthor, Lois Lane, Jimmy Olsen, Perry White, Pistoleiro, Arlequina, Killer Croc, além de a histórias de origem para o Lanterna Verde Alan Scott, o Flash Jay Garrick e Ciborgue. É gente demais para páginas de menos, o que cria um verdadeiro vendaval narrativo que atira para todos os lados e só aqui e ali acerta nas novas caracterizações, como são os casos especialmente de Lex Luthor e Alan Scott. Ironicamente, o Superman – ou melhor, Clark Kent – é visto apenas no começo, em 1860, chegando à Terra (eu disse que ele era da Terra, mas isso tem explicação, pelo menos uma tentativa de explicação) e no final, em Smallville,  como o xerife da cidade que usa “sorte” como arma em um momento cômico, mas insuficiente para o personagem.

A arte do argentino Leandro Fernández tenta manter os conceitos visuais de Mike Mignola na história original, expandindo-os de maneira lógica para os demais personagens, com recriações que, no geral, ficaram muito boas, com destaque para o já citado uniforme da Mulher-Gato, mas também os do Pistoleiro e de Alan Scott, além de todos os figurinos civis de época e da tecnologia retrofuturista, como o laboratório à la Victor Frankenstein de Lex Luthor. Diria até que, considerando o tumulto do roteiro de Diggle, é a arte de Fernández que acaba sendo o diferencial não só pela maneira hábil como ele faz as transições, mas também por sua capacidade de concisão, algo essencial para que tudo caiba no proporcionalmente diminuto espaço designado.

A Era Kryptoniana é uma minissérie que existe com a função específica de instantaneamente criar todo um novo universo expandido e essa sua natureza fica evidente a cada página, a cada novo personagem introduzido que toma o espaço de outros que poderiam ser desenvolvidos com mais vagar. E aquela sensação de que ela se trata de uma história de caráter introdutório incomoda constantemente, pois retira da minissérie o caráter autocontido que deveria ter e empurra um milhão de pontas soltas para uma segunda minissérie que, muito provavelmente, não conseguirá dar conta delas a contento, repetindo o processo de fazer tudo correndo para mostrar mais e mais sem realmente se preocupar com a história subjacente. Mais calma e economia teria feito maravilhas aqui.

Batman: Gotham 1893 – A Era Kryptoniana (Batman: Gotham By Gaslight- The Kryptonian Age – 2024)
Contendo: Batman: Gotham By Gaslight- The Kryptonian Age #1 a 6
Roteiro: Andy Diggle
Arte: Leandro Fernandez
Cores: Dave Stewart (#1 a 3), Matt Hollingsworth (#4 a 6)
Letras: Simon Bowland
Editoria: Ben Abernathy (#1 a 3), Ash Padilla (#4 a 6), Marquis Draper, Chris Conroy
Editora original: DC Comics
Datas originais de publicação: 11 de junho, 10 de julho, 14 de agosto, 11 de setembro, 09 de outubro e 13 de novembro de 2024
Editora no Brasil: Editora Panini
Data de publicação no Brasil: abril de 2025 (encadernado)
Páginas: 216



[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img