A forte turbulência eleitoral manteve os ativos locais sob pressão pela segunda sessão consecutiva nesta quarta-feira. Na bolsa, o movimento negativo foi amplificado novamente pela queda expressiva de ações de bancos, ao passo que blue chips de commodities ajudaram a limitar um pouco das perdas do Ibovespa. Depois de ceder 2,40% no dia anterior, o índice encerrou o pregão em queda de 0,79%, aos 157.327 pontos, voltando a negociar perto da pontuação vista no dia do anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que foi de 157.369 pontos.
Na mínima do dia, o Ibovespa chegou a cair mais de 1% e tocar os 156.351 pontos, distante da máxima intradiária de 158.611 pontos.
Os resultados da pesquisa eleitoral da Genial/Quaest, somados à informação acerca de um encontro entre o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e agentes econômicos, reforçaram a leitura de que uma candidatura do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), parece ter perdido força neste momento, diante da pré-candidatura de Flávio.
A aversão a risco eleitoral penalizou novamente ações de bancos, que cederam em bloco: BTG Pactual (-3,29%), Itaú Unibanco PN (-0,89%), Bradesco PN (-0,82%), Banco do Brasil (-0,74%), e Santander Units (-0,60%). Em dois pregões, a perda de valor de mercado das cinco instituições financeiras, somadas, chegou a R$ 47,4 bilhões, segundo dados levantados pelo Valor.
A maior queda em termos de valor de mercado foi registrada pelo BTG Pactual, que viu o montante recuar R$ 18,1 bilhões nos últimos dois pregões. Na sequência aparece o Itaú Unibanco, que registrou perda de R$ 14,9 bilhões no mesmo período.
Na ponta contrária, os papéis ON da Vale encerraram com ganho de 1,27%, enquanto as PN da Petrobras subiram 1,11%, apoiadas pelo avanço mais forte nos contratos futuros de petróleo.
A extensão do mau humor no mercado local hoje ocorreu porque os agentes econômicos ainda estão digerindo o cenário eleitoral complexo formado a partir do fortalecimento da candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Planalto, avalia o sócio e head de ações da Vinland, Rodrigo Andrade.
Segundo o executivo, o mercado acreditava que poderia haver alguma interferência política para a construção de uma chapa de oposição de centro-direita mais moderada, mas houve frustração após o filho mais velho de Jair Bolsonaro reafirmar que seguirá na disputa. A pesquisa divulgada ontem, que mostrou uma maior competitividade do senador em relação a outros nomes da direita, reforçou essa narrativa.
“O movimento interrompeu o rali que vinha acontecendo na bolsa, e o mercado está digerindo a percepção de que o Flávio, de fato, entra como candidato”, destaca o profissional. “Em contrapartida, ele deve se reunir com investidores para tentar acalmar os ânimos. Carrega o sobrenome, mas ainda há muita dúvida sobre a viabilidade dessa candidatura”, acrescenta.
A baixa visibilidade do cenário eleitoral se somou à postura mais dura do Comitê de Política Monetária (Copom) na ata divulgada ontem, o que aumentou a probabilidade de o início do corte da Selic ser transferido para março.
“Acho que são dois efeitos de curto prazo que estão levando o mercado a realizar lucros. Mas ainda tem muita água para rolar nos próximos três meses”, afirma.
Em dia de vencimento de opções sobre Ibovespa, o volume financeiro negociado pelo índice foi maior e chegou a R$ 24,7 bilhões. Já na B3, o giro financeiro alcançou R$ 33,0 bilhões. Enquanto isso, em Nova York, os principais índice registraram perdas intensas: no fim do dia, o Nasdaq cedeu 1,81%; o S&P 500 recuou 1,16%; e o Dow Jones perdeu 0,47%.