Dados mais fracos da produção industrial brasileira reforçaram as apostas em um corte da Selic em janeiro, o que elevou o otimismo com a bolsa local desde o começo do pregão. Logo após a abertura dos negócios, o Ibovespa renovou recorde intradiário, movimento que se repetiu sucessivas vezes durante o dia, em virtude de pesquisas eleitorais menos favoráveis ao governo e de declarações de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não teria batido o martelo sobre uma eventual candidatura à reeleição.
Na reta final, os ganhos do índice se intensificaram ainda mais e o Ibovespa registrou o maior fechamento nominal de sua história, aos 161.092 pontos, com alta de 1,56%, pontuação que também foi a máxima já batida em um dia pelo índice.
Perto do fim do pregão, o ganho expressivo do índice foi intensificado pelo avanço de blue chips de bancos e de commodities. As maiores altas nesse grupo ficaram para as units do BTG Pactual, que avançaram 2,81%, em linha com o desempenho de ações mais líquidas e do Ibovespa. Da mesma forma, as ON da Vale subiram 0,82%, enquanto as PN da Petrobras encerraram com ganho de 0,69%, após adotarem um movimento mais negativo durante parcela do pregão.
Segundo participantes do mercado, uma confluência de fatores atuou para turbinar os ganhos do Ibovespa na sessão, com destaque para as pesquisas eleitorais menos favoráveis ao governo. Os profissionais citaram também a fala do presidente Lula, em que ele disse que deverá decidir só em março de 2026 se sairá como candidato à reeleição; os dados mais fracos da indústria, que reforçaram as apostas de corte da Selic em janeiro; o avanço dos índices americanos; a conversa entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), considerada “ótima” por Trump; e os anúncios de antecipação de dividendos não programados por algumas empresas.
Embora a antecipação do pagamento de proventos seja esperada após mudanças aprovadas na reforma do Imposto de Renda (IR), o chefe de mesa de renda variável da Warren, Ricardo Maluf, destaca que o movimento faz preço nas ações, ao reduzir o risco e otimizar o pagamento.
“Mesmo a reserva de lucros sendo algo que, de certa forma, já está nos modelos [das casas], a antecipação [dos pagamentos] traz a valor presente algo que só ocorreria no futuro, e que estaria suscetível a eventuais mudanças de rota”, pondera Maluf.
As ações da Ultrapar chegaram a ficar entre as maiores altas no pregão, após a empresa anunciar dividendos de R$ 1,09 bilhão. Para a XP, o montante veio num valor acima do estimado pela casa. No fim do dia, os papéis encerraram com ganho de 3,33%, a R$ 22,31.
Já no cenário político, investidores acompanharam com atenção a pesquisa AtlasIntel, que indicou o aumento da taxa de reprovação ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que passou para 48,6%. Além de sinalizar nova piora na avaliação do governo, o levantamento mostrou que a vantagem de Lula sobre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), diminuiu em relação a outubro, tanto nos cenários de primeiro quanto de segundo turno da eleição presidencial de 2026.
Com uma visão otimista, o chefe de pesquisa, Fernando Siqueira, avalia que a possibilidade de alternância de poder, somada a dados mais fracos de atividade, poderiam levar o Ibovespa a superar o preço-alvo atual projetado pela Eleven para o fim de 2026, que é de 175 mil pontos.
“A expectativa de queda dos juros já está bem consolidada, que era algo que eu contemplava no cenário positivo do ano passado”, diz Siqueira. “E as eleições poderiam começar a ser precificadas, o que impactou pouco até agora, mas ajudou hoje, por exemplo.”
Para 2026, o profissional diz que os mesmos fatores seguirão relevantes, mas desta vez o que fará diferença é a realização de um fato, e não apenas a expectativa. “Se os juros caírem mais do que o mercado espera ou se a eleição ajudar, podemos ir para 190 mil (ou até 200 mil) pontos.” No entanto, Siqueira pondera que, se o corte de juros for muito pequeno ou a eleição frustrar o mercado, o Ibovespa pode ficar abaixo dos 175 mil pontos.
Embora a alta do índice tenha sido expressiva no pregão, o volume financeiro negociado pelo Ibovespa foi de R$ 17,8 bilhões, em linha com a média diária vista desde o começo do ano. Já na B3, o giro financeiro bateu R$ 24,5 bilhões.
Em Wall Street, os principais índices americanos encerraram em alta: o Nasdaq subiu 0,59%; o Dow Jones ganhou 0,39%; e o S&P 500 avançou 0,25%.