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Acessibilidade
As Pesquisas do Ano do Google 2025 destacaram três protagonistas que nasceram em nichos específicos, mas rapidamente ganharam escala global, Labubu, morango do amor e Bobbie Goods. Esses termos seguem uma lógica já conhecida da economia da atenção: produtos esteticamente marcantes, facilmente compartilháveis e carregados de desejo coletivo se transformam em fenômenos culturais e de mercado.
Para a Mestra em Comunicação (UNESP) e Especialista em Marketing Digital Monique Souza, “as pessoas deixam rastros digitais o tempo todo na web. Antes de virarem dados, esses comportamentos viram cultura, conversas. Todos esses sinais ajudam a identificar tendências e o que ainda pode bombar mais para frente”.
Os três fenômenos exemplificam essa dinâmica do hype. O Labubu, boneco da fabricante chinesa Pop Mart, que teve a febre iniciada no TikTok, rendeu mais de R$ 2 bilhões em vendas. O morango do amor, doce artesanal instagramável, ganhou versões de luxo vendidas a R$ 2.100 em São Paulo. Já os livros de colorir Bobbie Goods viralizaram em plataformas como TikTok e Instagram e alcançaram 150 mil exemplares vendidos no Brasil até o momento.
Economia da atenção
Nesse cenário, plataformas como TikTok, Instagram e YouTube desempenham papel decisivo. Monique explica: “Elas não apenas amplificam tendências como também dão forma, cor, narrativa e significado a esses movimentos. É ali que fenômenos como o morango do amor e o Labubu ganham vida e significado coletivo”.
Além disso, no ambiente das redes sociais, atenção é moeda de troca. “Engajamento vira tráfego, que vira demanda e que gera receita, tanto para marcas quanto para influenciadores. Um produto viral não precisa de grandes campanhas, porque basta que um conteúdo entre na dinâmica das redes sociais de compartilhamento, repetição e identificação”, afirma.
Outro ponto fundamental são os algoritmos de recomendação, que funcionam como curadores invisíveis. Eles selecionam o que merece ser visto e, consequentemente, o que passa a existir socialmente. “Os algoritmos não apenas distribuem o conteúdo, eles também selecionam tendências e, por isso, influenciam diretamente nas buscas e relevância”, completa Monique.
Esse comportamento digital se conecta a hábitos de consumo mais amplos. Uma pesquisa da Octadesk, em parceria com a Opinion Box, revelou que 88% dos brasileiros preferem comprar pela internet. Na tentativa de encontrar o melhor preço, 59% dos entrevistados recorrem ao Google. Outro dado relevante é que oito em cada dez consumidores realizam suas aquisições pelo celular, evidenciando como o comércio eletrônico se consolidou como prática cotidiana e estruturada no país.
Estratégias de mercado
Marcas que conseguem capitalizar fenômenos virais sem parecer oportunistas são aquelas que criam proximidade real com influenciadores e pessoas comuns por meio de narrativas autênticas. “Campanhas bem-sucedidas muitas vezes nos fazem até esquecer que existe intenção de venda, porque o valor está na identificação, não na oferta”, observa Monique.
O timing é crucial. “Existe uma janela muito clara: o momento em que a tendência ainda está crescendo, mas antes de saturar. Surfar a onda atrasada faz a marca parecer perdida e entrar apenas para não ficar de fora soa oportunista”, alerta.
O Labubu ilustra bem os riscos e oportunidades dessa dinâmica: colecionadores chegaram a pagar US$ 11 mil por edições especiais, mas a saturação rápida expôs a fragilidade de depender exclusivamente da lógica viral.
Impacto social e cultural
Quando um objeto deixa de ser apenas produto e ganha status cultural, ele se transforma em símbolo. “Símbolos sempre foram uma forma de moeda social”, lembra Monique.
O Labubu não viralizou apenas por ser um boneco, mas porque representava participação em um fenômeno cultural coletivo. “É a lógica do ‘eu faço parte disso’ e ‘eu sou visto dentro desse grupo’”, explica.
Nesse processo, influenciadores digitais atuam como curadores da cultura contemporânea. “Eles legitimam, ampliam e aceleram tendências que nascem de movimentos sociais, digitais e comunidades”, afirma Monique.
O TikTok, em especial, acelerou esse mecanismo ao transformar comportamentos em produtos. “O aplicativo não apenas populariza algo, ele cria um ecossistema completo em torno de tendências, fazendo surgir demandas reais por itens que, até pouco tempo atrás, eram de nicho”, completa.
Em síntese, a especialista afirma que estamos diante de uma fase em que cultura, tecnologia e consumo deixaram de ser coisas separadas. “Hoje, qualquer pessoa, marca ou comunidade tem poder de mídia nas mãos e pode influenciar conversas globais, algo que antes era restrito às grandes empresas e veículos tradicionais”, complementa Monique Souza.
O desafio, portanto, está em usar dados com inteligência para interpretar comportamentos, identificar oportunidades e antecipar movimentos. “Por trás de cada viral há um dado, um desejo e um contexto social. Marcas que compreendem essas camadas constroem relevância. As que ignoram… seguem correndo atrás do próximo hype”, conclui.