O governo da Dinamarca denunciou nesta sexta-feira (19) que foi alvo de ciberataques “destruidores e disruptivos” atribuídos à Rússia, direcionados contra infraestruturas críticas e sites governamentais. A avaliação oficial foi divulgada pelo Serviço de Inteligência de Defesa dinamarquês (FE). Essa é a primeira vez que Copenhague atribui publicamente esse tipo de ataque ao Estado russo.
De acordo com o FE, um dos episódios ocorreu no fim de 2024, quando o grupo hacker Z-Pentest, ligado ao Estado russo, atacou a empresa Tureby Alkestrup Waterworks, responsável pelo abastecimento de água na região de Køge, a cerca de 35 quilômetros ao sul de Copenhague. O ataque alterou a pressão da rede, provocou o rompimento de pelo menos três tubulações e deixou cerca de 50 residências sem água por sete horas, enquanto outras 450 casas tiveram o fornecimento interrompido por aproximadamente uma hora.
Segundo o serviço de inteligência dinamarquês, o Z-Pentest tem vínculos diretos com a Diretoria Principal de Inteligência Militar da Rússia (GRU) e atua como instrumento do que as autoridades classificam como “guerra híbrida” conduzida por Moscou contra países ocidentais que apoiam a Ucrânia. O grupo reivindica centenas de ataques a infraestruturas críticas em diferentes países, conforme dados citados por autoridades dos Estados Unidos.
Em outro episódio, ainda segundo o FE, o grupo NoName057(16) realizou ataques de negação de serviço (DDoS) contra sites oficiais da Dinamarca em novembro deste ano, às vésperas das eleições municipais e regionais. As ações comprometeram temporariamente o funcionamento de páginas institucionais e a comunicação pública durante o período eleitoral. As autoridades afirmam que esse grupo também mantém ligações com o Estado russo.
Em comunicado oficial, o serviço de inteligência afirmou que “o Estado russo utiliza esses grupos como instrumentos em sua guerra híbrida contra o Ocidente”, com o objetivo de gerar insegurança interna e punir países que apoiam a Ucrânia. Como resposta, o governo dinamarquês convocou o embaixador da Rússia para prestar esclarecimentos.
O ministro da Defesa da Dinamarca, Troels Lund Poulsen, classificou os ataques como “completamente inaceitáveis”, enquanto o ministro da Resiliência e Preparação, Torsten Schack Pedersen, afirmou em entrevista coletiva que, embora os danos tenham sido limitados, os episódios demonstram que “há forças capazes de paralisar partes importantes da sociedade”.
Segundo levantamento da Associated Press, os casos na Dinamarca fazem parte de um conjunto mais amplo de ações atribuídas à Rússia desde a invasão da Ucrânia em 2022, com 147 incidentes de sabotagem, ciberataques e interferência registrados em países europeus. A União Europeia manifestou solidariedade a Copenhague e afirmou, por meio de sua diplomacia, que continuará a fortalecer a resiliência cibernética dos Estados-membros diante de ameaças semelhantes.