Crédito, AFP via Getty Images
- Author, Iara Diniz
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
Alguns parlamentares da oposição que se manifestaram nas redes sociais criticaram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizendo que se sentiam traídos e decepcionados.
“O sentimento, não escondamos, é de traição. Certamente o preço cobrado por Trump não foi baixo, e em breve saberemos se Lula ofereceu as terras brasileiras ou o apoio na queda de Nicolás Maduro”, disse o vice-líder da oposição na Câmara, o deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS), em uma publicação no X.
“Trump pensou nos EUA, com seu slogan ‘American First'”, acrescentou.
O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) disse que a Lei Magnitsky foi “banalizada” por Trump e que o presidente americano é uma “grande decepção”.
“Não existe ‘ex-violador de direitos humanos’. Infelizmente colocamos esperanças em alguém que só queria negociar. Uma grande decepção com o presidente americano e uma enorme lição para nós: não terceirizemos nossa responsabilidade”, declarou.
O deputado Rodrigo Valadares (União-SE), também fez críticas, dizendo que “o sistema se fechou em si e nos seus próprios interesses” apesar do “sacrifício” de Eduardo Bolsonaro.
A retirada das sanções, anunciada nesta sexta-feira (12/12), era defendida pelo governo brasileiro em conversas mantidas com interlocutores da administração norte-americana.
Em uma publicação no X, a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), atribuiu a decisão a uma vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Foi Lula quem colocou esta revogação na mesa de Donald Trump, num diálogo altivo e soberano”, afirmou.
“É uma grande derrota da família de Jair Bolsonaro, traidores que conspiram contra o Brasil e contra a Justiça”.
As sanções contra Alexandre de Moraes foram impostas em julho, em meio às pressões do governo americano para tentar influenciar o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Em setembro, a esposa de Moraes também foi incluída na lista, assim como a empresa administrada por ela e pelos três filhos do casal.
Na tarde desta sexta-feira, pouco depois do anúncio do fim das sanções, Eduardo se manifestou sobre o assunto.
Em uma publicação no X, o parlamentar divulgou uma nota conjunta com o influenciador Paulo Figueiredo. Eles disseram receber com “pesar” a notícia, mas que eram “gratos pelo suporte dado pelo presidente Trump demonstrado durante este processo e pela atenção que ele deu a esta séria crise de liberdade afetando o Brasil”
Seguindo a linha de Eduardo, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) também agradeceu a Donald Trump pela “ajuda”, disse que a aplicação da Lei Magnitsky “abriu janela para o Brasil” e que restava aos brasileiros, agora, fazer sua parte.
“A guerra para tirar a suprema esquerda do poder no Brasil será nossa, dos brasileiros”, escreveu.
“Ou o Brasil reage agora, ou normaliza o autoritarismo togado.”
O deputado Mario Frias (PL-SP) pediu que as pessoas não buscassem culpados e também “não colocassem mais lenha na fogueira”.
“Quem mais sofre ncesse processo são os inocentes que são presos políticos e o próprio presidente Bolsonaro. Como ele já disse certa vez: não é o fim”, afirmou.
Em evento, Moraes e Lula comentam decisão do governo americano
Tanto Alexandre de Moraes quanto Lula participaram nesta sexta-feira do evento de lançamento do canal SBT News.
Ao discursar, Moraes agradeceu a Lula pelo “empenho” em demonstrar a “verdade” relativa à sua situação e à de sua esposa.
“A verdade, com o empenho do presidente Lula e de toda a sua equipe, a verdade prevaleceu”, disse Moraes em evento de lançamento do SBT News, onde Lula também estava.
O ministro do STF disse que o anúncio desta sexta-feira foi resultado de uma “tripla vitória” — do Judiciário, que “não se vergou a ameaças”; da soberania nacional; e da democracia brasileira.
“O Brasil chega hoje, no quase final de ano, dando exemplo de democracia e força institucional a todos os países do mundo”, disse Moraes.
O magistrado contou ainda que, em julho, pediu a Lula que não tomasse qualquer medida contra a decisão americana, porque a “verdade” prevaleceria quando chegasse ao conhecimento das autoridades norte-americanas.

Crédito, Ricardo Stuckert/PR
No mesmo evento, Lula brincou que Moraes ganhou de Trump um presente, já que o ministro fará aniversário neste sábado (13).
O presidente relatou que conversou na semana passada com Trump, que teria perguntado se a retirada das sanções seria positiva para Lula.
“É bom para você?”, perguntou Trump, segundo Lula.
“Não é bom para mim, é bom para o Brasil e é bom para a democracia brasileira. Aqui, você não está tratando de amigo pra amigo. Você está tratando de nação pra nação. E a Suprema Corte para nós é uma coisa muito importante, Trump”, respondeu o presidente brasileiro, de acordo com seu relato no evento do SBT News.
Segundo os jornais O Globo e Folha de S. Paulo, Lula enviou uma mensagem direta ao presidente Trump agradecendo pela retirada das sanções.
Reação da base do governo
Parlamentares da base do governo viram a retirada da sanções como uma derrota do bolsonarismo.
“É uma vitória da diplomacia de Lula e uma prova de solidez da nossa democracia. Expõe o fracasso da campanha bolsonarista de tentar deslegitimar o Brasil no exterior e atacar a nossa soberania”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE) nas redes sociais.
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT), chamou a medida de uma “derrota histórica dos traidores da pátria que tentaram negociar sanções internacionais, revogação de vistos, tarifas e a chamada ‘pena de morte financeira’ contra o ministro”.
“Nova vitória da diplomacia do presidente Lula. Química continua produzindo bons resultados”, afirmou o parlamentar.