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Enquanto a inteligência artificial ganha tração nas empresas, o ritmo acelerado também amplia os riscos. No Brasil, 8 em cada 10 líderes se preocupam com o uso de ferramentas de IA externas e sem aprovação formal da companhia e do departamento de TI, segundo o novo estudo global Value of AI, da SAP em parceria com a Oxford Economics.
A tendência ganhou nome: Shadow AI (ou IA paralela). “O funcionário não usa Shadow AI por malícia, mas por busca de eficiência”, explica Daniel Lázaro, líder de dados e IA da consultoria Accenture na América Latina. “Ao colocar segredos industriais em uma plataforma de IA generativa pública, ele está potencialmente treinando o modelo do seu concorrente.”
Segundo o relatório, que ouviu 1.600 executivos de oito países, incluindo 200 líderes brasileiros, 66% das companhias brasileiras admitem que o uso de Shadow AI ocorre com alguma frequência. E a tendência é de crescimento, impulsionada pelo avanço da inteligência artificial generativa nas rotinas profissionais. “As empresas brasileiras estão entrando em uma nova fase de maturidade digital, em que a IA deixa de ser um experimento e passa a ser uma alavanca de crescimento”, afirma Rui Botelho, presidente da SAP Brasil. “A IA está sendo embutida em tudo, do editor de texto ao navegador. Logo, a Shadow AI tende a se tornar onipresente e mais difícil de distinguir”, explica Lázaro.
Profissionais usam IA, mas não querem que o chefe saiba
O relatório de tendências de trabalho da Microsoft em parceria com o LinkedIn de 2024 mostrava que os profissionais tinham medo de admitir que estavam usando IA no trabalho. Pouco mais da metade dos que usam inteligência artificial (52%) eram relutantes em mostrar que usam a tecnologia em tarefas importantes. E aproximadamente o mesmo número tinha medo de que isso os fizesse parecer substituíveis.
Cerca de 75% dos profissionais afirmaram que estavam utilizando IA no trabalho. E mais de três quartos usavam suas próprias ferramentas, em vez de trabalhar com aquelas fornecidas pela empresa, um fenômeno que a Microsoft chamou de “BYOAI” (“Bring Your Own Artificial Intelligence”), o que significa “trazer sua própria inteligência artificial”. “O relatório mostra que os funcionários querem usar IA no trabalho e não estão esperando que as empresas os alcancem”, afirmou Colette Stallbaumer, que lidera as equipes de futuro do trabalho e do Microsoft 365. “Muito disso é uso não autorizado.”
Como lidar com a Shadow AI
Para lidar com a Shadow AI, o caminho, segundo o executivo da Accenture, não é proibir o uso, mas explicar os riscos e criar alternativas. “As empresas que tentarem apenas bloquear o acesso com firewalls perderão a guerra. As líderes a converterão em inovação gerenciada.” Ele recomenda que as companhias ofereçam um ambiente corporativo seguro em que os dados não vazem, como um ChatGPT interno, e eduquem o time para entender o impacto ético e de negócio do uso da Shadow AI. “Os funcionários precisam entender que colar uma estratégia confidencial em um chatbot público é diferente de usar um conversor de PDF online.”
Cenário da IA no Brasil
Atualmente, 23% das tarefas corporativas no país já contam com algum tipo de suporte de IA, e a expectativa é que esse número suba para 40% até 2027. Além disso, quase sete em cada dez empresas (69%) afirmam que a tecnologia tem sido eficaz para solucionar os principais desafios de negócio, proporção acima da média global (59%).
Segundo o estudo da SAP, 68% das empresas afirmam estar preparadas para adotar soluções de IA, mas 70% têm pouca confiança na própria capacidade de integrar dados de forma responsável entre áreas internas. Além disso, 60% relatam dificuldade em fazer essa integração com parceiros externos. Os índices se aproximam da média global, indicando que os desafios são comuns entre os países analisados – além do Brasil, Alemanha, Austrália, China, Estados Unidos, Índia, Reino Unido e Singapura.
Enquanto ajustam governança e práticas de uso responsável, as companhias brasileiras avançam na captura de valor da inteligência artificial. O estudo da SAP mostra que os investimentos em IA no país chegam a US$ 14,2 milhões (R$ 77,4 milhões) por ano, com retorno médio de 16% — igual à média global — e projeção de 31% em dois anos. “Quando a IA é integrada a dados de qualidade e fluxos de trabalho inteligentes, o retorno aparece de forma concreta e sustentável”, diz Botelho.
Os investimentos das empresas brasileiras em IA devem avançar 36% nos próximos dois anos — ritmo próximo ao da Alemanha (37%) e do Reino Unido (40%). Os agentes autônomos devem liderar a próxima etapa da inteligência artificial no Brasil. “É uma nova fase, em que a IA deixa de apenas apoiar processos para efetivamente impulsionar a transformação dos negócios”, completa o presidente da SAP.