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- Author, India Bourke, Isabelle Gerretsen, Sophie Hardach, Martha Henriques, Katherine Latham, Lucy Sherriff e Jocelyn Timperley
- Role, BBC Future
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O pano de fundo do ano que se encerra, em relação ao meio ambiente, é conhecido.
As emissões de carbono estão crescendo e a natureza permanece em declínio.
Mas também houve pontos favoráveis em 2025. Ações específicas na área de energia limpa, conservação ambiental e direitos dos povos indígenas trouxeram sensíveis resultados positivos para o clima e para a natureza.
Estes avanços silenciosos, às vezes, podem passar despercebidos. Por isso, aqui estão sete marcos importantes alcançados neste ano.
Avanço das fontes renováveis
O crescimento global do uso de fontes renováveis é puxado pela China, que vem expandindo maciçamente sua produção de energia limpa e dominando as exportações da tecnologia do setor.
Além do enorme crescimento da energia solar, a China está aproveitando até o poder das tempestades extremas, com fazendas eólicas resistentes a tufões.
Outros países também vêm conseguindo avanços graças à energia eólica.
No Reino Unido, uma pesquisa de 2025 concluiu que o vento passou a ser a maior força de energia isolada no ano anterior. Ela cobre cerca de um terço da demanda, enquanto o carvão praticamente desapareceu como fonte de eletricidade.
O Reino Unido também está avançando em relação à forma de armazenar energia limpa quando o vento não sopra, ou o sol está encoberto.
Os britânicos estão começando a construir a maior instalação de armazenagem de baterias de ar líquido do mundo, no norte do país.
Globalmente, a velocidade de crescimento da capacidade de energia renovável vem aumentando em mais de 80% dos países.
E, até 2030, a capacidade total de energia renovável deve dobrar em relação aos níveis atuais, segundo a Agência Internacional de Energia.

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A responsável por grande parte deste crescimento é a China.
Com a sua guinada rumo à energia limpa, a China viu suas emissões de dióxido de carbono (CO2) caírem pela primeira vez em 2025, segundo análise do portal Carbon Brief. E o declínio das emissões persistiu por 12 meses seguidos, até maio de 2025.
Pode ser apenas o começo, mas os números indicam que as emissões do país podem ter atingido o pico. E esta tendência, de fato, pareceu se manter no restante do ano, como indica uma segunda análise do Carbon Brief.
A China também atualizou seu compromisso de redução das emissões, enquanto muitos outros países deixaram de apresentar suas novas promessas antes das discussões sobre o clima das Nações Unidas.
De forma geral, o aumento mundial da energia limpa cria condições para um pico global e para a redução do uso de combustíveis fósseis para a produção de eletricidade, segundo um relatório do centro de estudos especializado em energia global Ember.
O crescimento da energia limpa é rápido e vem se acelerando, mas não em velocidade suficiente para evitar os riscos maiores das mudanças climáticas.
Proteção ao oceano
O alto-mar (as águas além das jurisdições nacionais) compõem cerca de dois terços dos oceanos do planeta.
Atualmente, apenas 1% dessa vasta área é protegida. Mas isso está para mudar.
Depois de décadas de negociações, um acordo global para proteger o alto-mar foi finalmente definido em 2023. E, em setembro de 2025, ele foi ratificado por um número de países suficiente para colocá-lo em vigor.
O Tratado do Alto-Mar compromete os países a incluir 30% dessas águas em Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) — partes do oceano dedicadas à proteção de habitats, espécies e ecossistemas marinhos saudáveis.
Os oceanos em águas nacionais também receberam maior proteção. Em 2025, foi criada a maior AMP do mundo, em Tainui Atea, na Polinésia Francesa. Ela pretende proteger 1,1 milhão de quilômetros quadrados de oceano.

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Reviravolta na floresta
O Brasil sediou, em 2025, a COP30, a primeira conferência climática global da ONU realizada na floresta amazônica. Com isso, as florestas foram sua principal plataforma.
As negociações ocorridas em Belém (PA) no mês de novembro receberam o apelido de “a COP da floresta”.
Apesar das dificuldades encontradas para sua implementação, o Brasil anunciou planos de criação de um “guia” para levar a cabo um compromisso anteriormente assumido com o fim do desmatamento até 2030.
O projeto recebeu o apoio de mais de 90 países, mas ficou de fora do texto final da cúpula e ainda não se sabe ao certo qual é sua validade legal.
O Brasil também estabeleceu uma plataforma de financiamento para proteger áreas de floresta existentes, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês).
Seu objetivo é valorizar mais a manutenção das florestas tropicais do que a sua destruição, com recompensas financeiras para quem tomar medidas verificadas e bem sucedidas para manter as florestas em pé.
É uma abordagem diferente de muitos outros fundos florestais, que costuma recompensar as reduções de emissões, não as áreas de florestas preservadas.
Seu objetivo é atingir US$ 125 bilhões (cerca de R$ 683 bilhões), mas os compromissos com o fundo, até aqui, atingiram apenas US$ 6,7 bilhões (cerca de R$ 36,6 bilhões).
Os dados oficiais brasileiros demonstram que o desmatamento na sua parte da Amazônia caiu em 11% no período entre agosto de 2024 e julho de 2025.
Este é o menor índice de desmatamento dos últimos 11 anos.
O desmatamento também diminuiu no delicado ecossistema do Cerrado, outro ponto importante para a biodiversidade.
Paralelamente, a ONG independente Imazon concluiu que o desmatamento na Amazônia brasileira, em outubro de 2025, foi 43% menor do que no mesmo mês do ano anterior.
Em todo o mundo, os índices anuais de desmatamento foram 38% inferiores no período entre 2015 e 2025, em comparação com 1990-2000, segundo um relatório das Nações Unidas publicado em 2025. E mais da metade das florestas, agora, conta com cobertura de planos de gestão de longo prazo.
O relatório destaca que cerca de 10,9 milhões de hectares ainda são desmatados anualmente em todo o mundo. A área é um pouco maior que o Estado de Pernambuco.

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Decisão histórica na Justiça
O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), considerado a mais alta corte do mundo, emitiu uma decisão histórica em 2025, que abre caminho para que os países entrem com ações uns contra os outros, em relação às mudanças climáticas.
Esta mudança pode ajudar as nações fortemente prejudicadas pelas alterações do clima a tomar medidas jurídicas contra os países poluidores.
A decisão não é obrigatória para o próprio tribunal, nem para cortes domésticas. Mas especialistas afirmam que as conclusões do TIJ carregam peso significativo e podem exercer influência substancial sobre o tratamento das ações relativas ao clima em outras partes do mundo.
Vitórias da vida selvagem
Diversas espécies ameaçadas se recuperaram significativamente em 2025.
Antes caçadas pelos seus ovos e cascos decorativos, as tartarugas-verdes foram resgatadas à beira da extinção.
Sua população se recuperou graças a décadas de trabalhos de conservação. Eles incluíram a libertação de filhotes nas praias para reduzir sua captura acidental pelas redes de pesca.
Em 2025, a espécie foi retirada da categoria “ameaçada” para “menor risco”, na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.
A Flórida, nos Estados Unidos, teve uma estação recorde de ninhos de tartarugas-marinhas. Foram mais de 2 mil ninhos de tartaruga-de-couro.
Paralelamente, a Índia, agora, abriga 75% dos tigres do mundo. A população desses animais no país dobrou em pouco mais de uma década, atingindo mais de 3,6 mil indivíduos.
Eles vivem em uma área que cobre 138,2 mil quilômetros quadrados (um pouco menor que o Estado do Ceará), ao lado de cerca de 60 milhões de pessoas.
Foi necessário muito trabalho para proteger os animais da caça ilegal e da perda de habitat, além de reduzir os conflitos com seres humanos.
Cientistas afirmam que este trabalho oferece lições valiosas e mostra ao resto do mundo como a conservação pode proteger os grandes felinos, ampliar a biodiversidade e apoiar as comunidades locais.

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Desenvolvimento indígena
Em 2025, os povos indígenas foram formalmente reconhecidos pelas Nações Unidas como líderes de proteção e guardiões do planeta.
Na conclusão da cúpula da biodiversidade das Nações Unidas COP16, realizada em fevereiro, os povos indígenas receberam voz oficial na tomada de decisões sobre a conservação ambiental.
O acordo para a criação de um novo comitê permanente consagrou este direito, substituindo o status até então simbólico e informal dos povos indígenas nas discussões por algo formal e permanente.
A ênfase sobre a importância do conhecimento ancestral foi transferida para a conferência climática COP30 no Brasil. Aqui, as vozes indígenas foram representadas pela sua maior delegação na história das COPs.
As vitórias conquistadas durante a cúpula do clima incluíram a adoção de novos compromissos de financiamento e reconhecimento dos direitos à terra pelos povos originários. Só no Brasil, foram criados 10 novos territórios indígenas.
Mas permanece o receio de que as promessas não se traduzam em mudanças reais e muitas comunidades indígenas continuam ameaçadas.
Durante a conferência, a organização Survival International relatou a morte violenta de um líder Guarani Kaiowá no sul do Brasil.
Restauração do rio Klamath
Apenas um ano depois da histórica remoção de quatro represas ao longo do rio Klamath, no Estado americano da Califórnia, os salmões voltaram para seus locais de desova tradicionais.

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“Agora, existe salmão em toda parte”, afirmou à imprensa local Michael Harris, gerente ambiental do Programa da Bacia Hidrográfica do Rio Klamath do Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia. “A velocidade do seu retorno é surpreendente.”
Não existiam salmões nas áreas rio acima há gerações. Mas uma campanha liderada pelas tribos indígenas levou à derrubada, em 2024, de quatro represas hidrelétricas, que passaram décadas poluindo gravemente o rio.
Com isso, o poderoso Klamath voltou a fluir livremente, como no passado.