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- Author, Bernd Debusmann Jr e Paul Kirby
- Role, Correspondente em Washington e editor digital para Europa da BBC News
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O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disseram neste domingo (28/12) que os dois países concordam, em linhas gerais, com a maioria dos pontos em negociação para um acordo de paz na guerra da Ucrânia.
Na conversa com jornalistas em Mar-a-Lago (residência de Trump em Palm Beach, na Flórida) após encontro para tratar do acordo, porém, nem Trump nem Zelensky estabeleceram prazos, prometendo, em vez disso, que suas equipes se reunirão novamente nas próximas semanas.
Zelensky também mencionou a possibilidade de uma reunião subsequente em Washington, com a presença de líderes europeus.
Segundo Trump, o território ucraniano e quem o controla continua sendo o ponto de atrito mais espinhoso – e nenhum dos dois líderes ofereceu uma solução para isso, além de uma nova reunião.
E qualquer cessar-fogo e acordo de paz subsequentes, é claro, exigiriam que a Rússia concordasse com os mesmos pontos.
Em suas declarações, Trump reconheceu que Vladimir Putin não concordou com um cessar-fogo que permita a realização de referendos na Ucrânia.
O que foi dito e pontos de impasse
Trump classificou a reunião com Zelensky neste domingo como um “encontro fantástico” e disse que sentia que estavam “muito perto, talvez muito perto” de um acordo.
Zelensky agradeceu a Trump por um “ótimo encontro”, acrescentando que um plano de paz de 20 pontos estava “90%” acordado.
Sobre garantias de segurança para a Ucrânia num eventual pós-guerra, o líder ucraniano as descreveu como “100% acordadas”, chamando-as de “marco fundamental para alcançar uma paz duradoura”.
Embora tenha acrescentado que suas equipes continuarão trabalhando nisso para “finalizar todos os assuntos discutidos” — enquanto Trump disse que estavam “perto de 95% concluídos”.
Com relação ao território, Trump descreveu Donbas — território a leste da Ucrânia, na linha de frente dos combates — como uma questão “não resolvida”, mas disse que estavam “muito perto” de um acordo.
Zelensky acrescentou que a posição da Ucrânia sobre Donbas é “muito clara” e difere daquela da Rússia.
O Donbas é composto pelas regiões de Donetsk e Lugansk. Putin defende a incorporação do território que, segundo ele, tem laços históricos com a Rússia e o legado da União Soviética.
No entanto, segundo a Constituição ucraniana, o Donbas pertence à Ucrânia.
O presidente dos EUA disse ainda que a Rússia “vai ajudar” na reconstrução da Ucrânia. Ele acrescentou que estava aberto a visitar a Ucrânia, idealmente após um acordo ser firmado.
Trump disse também acreditar que Rússia, Ucrânia e EUA poderiam se encontrar “no momento certo” e pareceu sugerir que Putin também “quer que isso aconteça”.

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Duas incertezas: território a leste e usina nuclear
Há duas questões em particular que têm preocupado os negociadores americanos e ucranianos.
Uma delas foi a exigência de Putin de que a Ucrânia ceda 25% da região leste de Donetsk, território que a Rússia não conseguiu conquistar. Esta sempre seria a questão mais difícil de todas, e Trump admite que está “sem solução”.
O plano dos EUA é transformar a área em uma zona econômica desmilitarizada.
Kiev afirma que isso poderia acontecer se a Rússia também se retirasse do território – mas seria necessário um referendo ou uma votação no parlamento.
Neste domingo, Trump disse que Putin se recusou a permitir um cessar-fogo para que os ucranianos realizem um referendo sobre as decisões territoriais.
Outra questão é o futuro da maior usina nuclear da Europa, perto de Zaporizhzhia, que atualmente está sob ocupação russa e possui seis reatores nucleares.
Trump afirma que o assunto foi discutido “amplamente hoje [no domingo]”.
Segundo o plano de paz dos EUA, os Estados Unidos, a Rússia e a Ucrânia administrariam a usina e lucrariam com ela conjuntamente, mas Zelensky é conhecido por rejeitar qualquer envolvimento comercial russo no projeto.
Trump diz acreditar que Putin ‘quer ver a Ucrânia ter sucesso’
Uma das declarações que mais chamou a atenção dos presente à coletiva de imprensa de Trump e Zelensky ocorreu quando o presidente americano foi questionado sobre a ajuda da Rússia na reconstrução da Ucrânia após a guerra.
“A Rússia quer ver a Ucrânia prosperar”, disse Trump aos repórteres.
“O presidente Putin foi muito generoso em seus sentimentos em relação ao sucesso da Ucrânia, inclusive fornecendo energia… a preços muito baixos.”

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Para os ucranianos que sofreram com apagões frequentes devido aos ataques russos à infraestrutura energética durante todo o inverno, este será um comentário muito difícil de aceitar. Principalmente para o 1 milhão de pessoas que ficaram sem energia após os ataques aéreos em Kiev neste fim de semana.
Isso também levanta questionamentos sobre o que mais Putin disse a Trump que parece contradizer a realidade.
Putin pode até querer que a Ucrânia prospere, mas em seus próprios termos. Ele disse no início deste ano que “toda a Ucrânia é nossa”.
Sobre o futuro da usina nuclear de Zaporizhzhia, Trump disse: “O presidente Putin tem trabalhado com a Ucrânia para reabri-la. Ele tem sido muito bom nesse sentido… ele não a atacou com mísseis.”
Embora seja verdade que um cessar-fogo local esteja em vigor para que sejam realizados reparos na fábrica de Zaporizhzhia, na Ucrânia, foi a Rússia que a ocupou em primeiro lugar.