Resumo da notícia
A Binance aposta no fortalecimento do mercado cripto com a regulação dos EUA e avanços no Brasil.
2026 promete ser um ano de crescimento institucional e expansão de produtos, como cartões e pagamentos via cripto.
Nazar destaca que a volatilidade é natural, mas que o mercado está cada vez mais consolidado como uma opção de investimento de longo prazo.
O mercado de criptomoedas encerra 2025 longe das promessas fáceis e mais próximo de uma maturidade que cobra paciência. Não há mais as altas de 1.000% no Bitcoin e tampouco o discurso de que o BTC vai substituir o dólar como moeda global, agora ‘louvamos’ as stablecoins.
Ao olhar para trás, o balanço não se resume a gráficos ou euforia passageira. Pelo contrário. A avaliação que emerge é mais ampla, estrutural e, sobretudo, global. Essa é a leitura apresentada por Guilherme Nazar, vice-presidente regional da Binance para as Américas, ao analisar o momento do setor e projetar o que vem pela frente.
Durante uma entrevista ao Cointelegraph Brasil na Blockchain Conference Brasil, Nazar destacou que ao longo de 2025, o mercado iniciou o ano impulsionado por expectativas elevadas. Havia confiança em uma postura mais aberta do governo dos Estados Unidos, sinais claros de mudança regulatória e a crença de que o tradicional ciclo de quatro anos do Bitcoin conduziria a uma valorização expressiva. Parte disso se confirmou. Outra parte ficou pelo caminho. Ainda assim, o resultado não pode ser tratado como frustração.
Nazar avalia o ano como positivo, mas por razões diferentes das imaginadas no início.
“O que eu vejo é que o preço, embora relevante, deixou de ser o único termômetro. O Bitcoin enfrentou quedas de 30% a 35% em momentos distintos, com episódios de forte alavancagem e liquidações relevantes. Mas o ativo manteve sua relevância, e o mercado passou a aceitar que a lógica cíclica simples não explica mais o comportamento do setor”, afirma.
Mudança regulatória nos EUA
Essa mudança de percepção coincide com avanços institucionais claros. Nos Estados Unidos, a aprovação do Genius Act no Congresso abriu espaço para que bancos e instituições financeiras possam emitir e distribuir stablecoins. Além disso, a nomeação de um novo comissário da SEC, com discurso mais alinhado ao setor, mudou o tom regulatório. Projetos como o Project Crypto e o avanço do Clarity Act sinalizam uma tentativa de criar regras mais claras e previsíveis.
Embora a famosa reserva estratégica de Bitcoin não tenha avançado como muitos esperavam, a decisão de manter os ativos apreendidos sem vendê-los também representa uma inflexão relevante. Para Nazar, esse movimento não deve ser interpretado como recuo, mas como parte de um processo mais longo. Ele compara a trajetória a uma maratona, não a uma corrida curta.
“A mudança não se dá do dia para a noite. Estamos vendo o setor passar por uma evolução e, embora o preço ainda seja importante, a regulação e a adoção institucional são sinais claros de um caminho de longo prazo”, explica Nazar.
Esse impacto não se limita aos Estados Unidos. Como maior economia do mundo e principal mercado de capitais, o país exerce influência direta sobre o restante do setor. Quando os EUA avançam em marcos regulatórios, o efeito se espalha. Stablecoins são o exemplo mais concreto disso. Hoje, a maior parte delas é lastreada em dólar. Ao regulamentar esse mercado, os Estados Unidos ampliam a confiança, o volume e a adoção global dessa tecnologia.
Ano positivo no Brasil
No Brasil, esse movimento também se refletiu de forma clara. Nazar destaca que 2025 foi um ano positivo no cenário local, tanto no aspecto institucional quanto na adoção prática. A Binance lançou produtos voltados ao investidor de varejo, com foco em pagamentos, ajudando a desmistificar a ideia de que cripto serve apenas para especulação.
“Com os produtos de pagamento, conseguimos ampliar o uso do cripto para além da especulação, fazendo com que o usuário se sinta mais à vontade para usar cripto no seu dia a dia”, aponta.
Além disso, a Binance avançou na oferta de soluções para investidores mais sofisticados. A carteira descentralizada passou a oferecer acesso a tokens ainda não listados em grandes exchanges, ampliando as possibilidades para quem busca diversificação. No campo institucional, a criação do Binance Wealth Pro marcou um passo importante ao oferecer ferramentas específicas para assessores financeiros, um segmento relevante no mercado brasileiro.
Outro ponto central foi a regulamentação do Banco Central. Após anos de expectativa, as normas finalmente avançaram. O processo incluiu consultas públicas e ajustes importantes, como a flexibilização para o uso de stablecoins em carteiras de autocustódia e a exclusão de livros globais de ofertas do conceito de câmbio. Para Nazar, o Banco Central demonstrou sensibilidade ao diálogo com a indústria, embora nem todos os pontos agradem a todos.
Ele reconhece que a regulamentação impõe custos e exige esforço. Pequenas empresas e iniciativas mais experimentais podem enfrentar mais dificuldades. Ainda assim, ele defende regras claras que protejam o investidor sem sufocar a inovação.
“Somos pró-regulação, desde que ela proteja o investidor, traga regras claras, mas sem inibir a inovação. A regulação deve caminhar de forma harmônica com o desenvolvimento do mercado”, defende Nazar.
Tokenização e stablecoins
A discussão sobre tokenização também ganha força nesse contexto. Stablecoins abriram o caminho ao tokenizar moedas fiduciárias. Agora, o debate avança para ações, títulos de renda fixa, imóveis e fundos. Nazar acredita que a tokenização de ativos tradicionais tende a crescer, eliminando barreiras geográficas e aumentando a eficiência do mercado. O anúncio recente do JP Morgan sobre depósitos tokenizados ilustra essa tendência.
Esse avanço tecnológico reforça a ideia de que o cripto deixou de ser apenas uma aposta de preço. Grandes gestoras, como a BlackRock, entraram no setor não por especulação, mas por enxergar o Bitcoin como uma nova classe de ativo, comparável ao ouro, à prata ou às ações. A volatilidade permanece, mas passa a ser encarada como parte do processo de consolidação.
Ao projetar 2026, Nazar aponta um ano de aprofundamento dessa transformação. A Binance pretende intensificar o foco em soluções locais, adaptadas às necessidades específicas de cada mercado. O Brasil, por exemplo, foi o primeiro país a receber o cartão da empresa e a integração com o Pix. “
A escolha do Brasil para ser o primeiro a receber o cartão e integrar o Pix não foi aleatória. Isso reflete a importância do mercado local e o potencial de crescimento para o setor”, afirma.
Na América Latina, a lógica será semelhante. A empresa busca entender dores locais e oferecer soluções que façam sentido para o usuário comum. O objetivo é ampliar a adoção real, indo além do investimento financeiro e integrando o cripto ao dia a dia.
Ao deixar um recado aos investidores, Nazar evita promessas fáceis. Ele reforça princípios básicos. Investir apenas o que não fará falta no curto prazo. Aceitar a volatilidade como parte do jogo. Evitar decisões emocionais diante de quedas abruptas.
“O conselho que eu dou é: invista apenas o que você pode perder sem que isso afete seu cotidiano. E lembre-se, cripto é um investimento de longo prazo, não uma solução para ganhos rápidos”, conclui.
Segundo ele, ruídos de curto prazo sempre existirão. Crises políticas, embates geopolíticos e decisões pontuais geram instabilidade momentânea. No entanto, esses fatores nem sempre alteram os fundamentos macroeconômicos que sustentam o mercado. Saber distinguir barulho de mudança estrutural se torna essencial.
Assim, ele aponta que 2026 se desenha como um ano decisivo não por prometer ganhos fáceis, mas por consolidar um novo estágio do mercado cripto. Um estágio marcado por regulação, adoção institucional, inovação tecnológica e uso prático.