Resumo da notícia
Saylor transforma Bitcoin em produto financeiro sofisticado.
MicroStrategy cresce puxada pela exposição ao Bitcoin.
Adoção corporativa tende a ser mais forte e estável.
Durante um painel no Blockchain Conference Brasil, Diego Kolling, diretor de estratégia da Méliuz, afirmou que Michael Saylor está fazendo para o Bitcoin o que John D. Rockefeller fez para o petróleo.
Segundo Kolling, o paralelo começa exatamente no ponto em que o petróleo era visto como algo inútil. Antes de Rockefeller, o petróleo era tratado como resíduo incômodo, usado quase apenas para querosene. No entanto, ao criar métodos eficientes de refino, Rockefeller mostrou que aquele material desprezado poderia se tornar a base energética do mundo moderno. Esse salto colocou seu nome na história e o transformou no homem mais rico de sua época.
Para Kolling, Saylor enxerga o Bitcoin da mesma forma. Ele afirmou que, hoje, muitos ainda veem a criptomoeda como um ativo inconveniente, altamente volátil e ligado a usos duvidosos.
Em vários casos, investidores institucionais prefeririam pagar para não ter exposição ao ativo. Mesmo assim, Saylor percebeu uma oportunidade. Ele pensou que, ao “refinar o Bitcoin”, poderia empacotá-lo de diferentes maneiras e distribuí-lo para perfis variados no mercado global.
Essa estratégia se desdobra em produtos específicos. De um lado, Saylor consegue criar dívida lastreada em Bitcoin destinada a investidores mais conservadores. De outro, estrutura opções direcionadas a perfis arrojados.
No centro desse arco, oferece ações com retorno semelhante ao do próprio Bitcoin, criando um veículo híbrido, simples de acessar e reconhecido no mercado tradicional. Essa arquitetura faz com que o Bitcoin deixe de ser apenas um ativo digital complexo e se torne um produto financeiro refinado, semelhante ao que Rockefeller fez com o petróleo.
Bitcoin como economia da nova era
O resultado já aparece nos números. A Strategy ultrapassou a marca de US$ 100 bilhões em valor de mercado, e aproximadamente 40% dessa avaliação vem diretamente da exposição ao Bitcoin. A empresa entrou no grupo das 100 maiores companhias do mundo e virou modelo para executivos e inovadores, inclusive no Brasil. Segundo Kolling, esse movimento provocou um efeito cascata, pois mostrou que a estratégia não era apenas ousada, mas fundamentalmente racional.
Ele também destacou que o Bitcoin ainda sofre com a definição de preço vinda de grandes investidores com pouco conhecimento técnico. Isso cria distorções. No entanto, à medida que o entendimento do ativo aumenta, o padrão deve se inverter: “Teremos o capital deles, e eles terão o conhecimento que temos hoje”, afirmou Kolling.
Para ele, a adoção segue uma curva previsível. Quando alguém realmente estuda o Bitcoin, passa a compreender seu funcionamento e percebe o potencial. Surge então a sensação de urgência, como se ficar de fora significasse perder uma transformação inevitável. As empresas, por outro lado, demoram mais para entrar, mas, quando entram, agem com estabilidade, visão de longo prazo e forte poder financeiro.
Kolling argumenta que essa demanda corporativa tende a ser mais consistente do que a das pessoas físicas. Ela é sustentada por metas estratégicas e por dificuldades operacionais que tornam tanto a compra quanto a venda mais difíceis, criando posições mais duradouras.
A visão encontra eco em análises de mercado. No mesmo painel, Renata Mancini, executiva da Ripio, afirmou que a regulação atual, especialmente o avanço do reporte da Receita Federal, começa a construir um ambiente seguro também para empresas. Segundo ela, essa estrutura regulatória fortalece a confiança e deve ampliar ainda mais o número de investidores entrando no setor.