Resumo da notícia
Bitget prevê 2026 marcado por tokenização e avanço institucional.
Mercado brasileiro deve liderar adoção de RWAs e acesso global.
Volatilidade dá lugar a fundamentos e maior maturidade regulatória.
A Bitget avalia que 2026 começará com um mercado mais cauteloso, porém muito mais maduro. A previsão foi feita por Guilherme Prado, diretor da Bitget no Brasil, em entrevista ao Cointelegraph Brasil. Segundo ele, 2025 confirmou que o setor deixou de ser um experimento isolado e passou a reagir como parte estruturada do sistema financeiro global.
O executivo lembra que o Bitcoin atingiu um recorde histórico de US$ 126 mil em outubro, impulsionado pelo apetite institucional, antes de enfrentar uma correção forte. Para Prado, o movimento não reduz a importância do ativo. Pelo contrário, mostra que o Bitcoin já responde aos mesmos sinais de liquidez, juros e risco que moldam decisões em bolsas tradicionais.
Além disso, ele afirma que “2025 foi um ano tipicamente cripto, cheio de volatilidade, mas com avanços que consolidam a indústria”. Entre esses avanços, ele cita novos ETFs, maior presença institucional e progressos regulatórios em vários países, fatores que ampliaram transparência e confiança.
No Brasil, o cenário é ainda mais dinâmico. O país se mantém entre os mercados de maior adoção global, impulsionado por digitalização acelerada, busca por diversificação e investidores cada vez mais sofisticados. Para Prado, “o avanço regulatório brasileiro é fundamental para criar um ambiente previsível, seguro e competitivo”. Ele confirma que a Bitget trata o Brasil como prioridade e que seus times jurídico e de compliance trabalham alinhados ao novo marco regulatório.
Desse modo, o panorama para 2026, segundo Prado, será marcado por maior seletividade. O Bitcoin deve seguir sob influência de aperto de liquidez global, e o mercado tende a operar com menos euforia enquanto espera sinais de flexibilização monetária. Ele afirma que o setor entrará em uma fase de foco nos fundamentos.
Nesse contexto, a tokenização de ativos reais (RWAs) desponta como protagonista. Prado afirma que a demanda já cresce dentro da própria Bitget e deve se intensificar no próximo ano. Ele explica que RWAs oferecem eficiência, liquidez e acesso global a ativos antes restritos, o que faz sentido mesmo em períodos de aversão ao risco.
“Tokenização não é apenas tendência. É infraestrutura. É o ponto em que cripto e finanças tradicionais finalmente se encontram”., disse.
Confira a entrevista completa
Uma avaliação sobre 2025
Cointelegraph Brasil (CTBR): Como a Bitget avalia o ano para as criptomoedas de uma perspectiva macro e no Brasil?
Guilherme Prado (GP): De uma perspectiva macro, 2025 foi um ano tipicamente cripto, marcado por fortes solavancos e alta volatilidade. Vimos o Bitcoin atingir um novo all time high em outubro, ao alcançar a marca de US$ 126 mil, refletindo um momento de forte apetite por risco e maior participação institucional. Desde então, o ativo passou por uma correção relevante, muito influenciada por fatores macroeconômicos, como um cenário global de menor liquidez, juros ainda elevados em algumas economias centrais e maior cautela dos investidores.
Ao mesmo tempo, esse movimento pode, e deve, ser visto como um sinal positivo, dependendo da perspectiva. O Bitcoin está cada vez mais inserido no contexto econômico global e reage, para o bem ou para o mal, às mesmas dinâmicas que afetam outros ativos de risco. Isso reforça que o mercado cripto deixou de ser um fenômeno isolado ou restrito a uma bolha especulativa e passou a ocupar um espaço real na mesa de decisão dos investidores, ao lado de ações, commodities e outros instrumentos financeiros.
Além disso, o ano foi marcado por avanços estruturais importantes. A aprovação de novos ETFs, a consolidação da participação institucional e o avanço das discussões regulatórias em diferentes mercados ajudaram a trazer mais maturidade, transparência e confiança para a indústria como um todo. Esses fatores contribuem para um ecossistema mais sólido no médio e longo prazo, mesmo em momentos de ajuste de preços.
No Brasil, esse cenário global se soma a características locais muito particulares. O país segue sendo um dos mercados mais relevantes para a adoção de cripto, impulsionado por fatores como digitalização financeira avançada, busca por diversificação e eficiência, além de um investidor cada vez mais sofisticado. O avanço regulatório local também tem sido fundamental para criar um ambiente mais seguro e previsível, favorecendo tanto usuários quanto empresas do setor.
Assim, apesar da volatilidade, 2025 foi um ano de consolidação para o mercado cripto, com desafios no curto prazo, mas com bases cada vez mais sólidas para um crescimento sustentável no futuro.
Brasil é mercado estratégico
CTBR: Agora que as regras foram publicadas, a Bitget planeja estabelecer formalmente a empresa no Brasil? Quais medidas estão sendo tomadas? E o que a exchange espera para o ano no Brasil?
GP: A Bitget acompanha com muita atenção a evolução regulatória no Brasil e em todos os países onde opera. Nosso compromisso é sempre atuar em conformidade com a legislação local vigente, avaliando continuamente os marcos regulatórios e adaptando nossos processos conforme necessário. Não posso dar detalhes, mas o que posso dizer eh que o Brasil é um mercado estratégico para a Bitget, dos mais importantes, e estamos trabalhando com nossos times Juridico e de Compliance, para garantir que estejamos em conformidade.
Olhando para 2026, o mercado brasileiro entra em uma fase de amadurecimento. A grande tendência que observamos é a consolidação da economia tokenizada, onde a tecnologia blockchain passa a ser a infraestrutura para ativos do mundo real, como recebíveis, cotas de fundos e títulos de renda fixa. Esse cenário permitirá que o investidor tenha acesso a produtos financeiros mais eficientes, transparentes e com liquidação imediata, transformando a forma como o capital circula no país.
Por exemplo, observamos um interesse crescente do investidor brasileiro em acessar o mercado global e empresas como Coca-Cola, Google, Apple e Microsoft, mas esse caminho sempre foi repleto de barreiras. Seja pela burocracia de abrir contas no exterior, pelas taxas de fundos de investimento ou pelas limitações de liquidez dos BDRs, o investidor comum acabava ficando de fora ou enfrentando custos desproporcionais.
Acreditamos que o grande potencial para os próximos anos está em usar a tecnologia blockchain para facilitar esse acesso via RWA. Isso permite que qualquer investidor no Brasil possa ter exposição a essas gigantes globais de forma fracionada, segura e com liquidação imediata. Em 2026, a tendência é que as barreiras geográficas e burocráticas se tornem irrelevantes, transformando o mercado cripto na principal porta de entrada para uma carteira de investimentos verdadeiramente global.
Tendências para 2026
CTBR: Quais as principais perspectivas para 2026, considerando o aperto no BTC e a lateralização do mercado com maior aversão ao risco?
GP: Para 2026, o cenário deve seguir desafiador no curto prazo, especialmente com o Bitcoin operando sob um aperto de liquidez e um ambiente global de maior aversão ao risco. A lateralização do mercado tende a persistir enquanto os investidores aguardam sinais mais claros de flexibilização monetária e melhora nas condições macroeconômicas globais.
Nesse contexto, vemos um mercado mais seletivo e racional, com foco crescente em fundamentos. Projetos com uso real, modelos de negócio sustentáveis e capacidade de gerar valor concreto devem ganhar protagonismo, enquanto movimentos puramente especulativos tendem a perder espaço.
Um dos principais vetores desse próximo ciclo é o avanço da tokenização de ativos do mundo real (RWA). Esse movimento deve se intensificar ainda mais em 2026, à medida que instituições financeiras, empresas e investidores buscam mais eficiência, liquidez e acesso global a ativos tradicionalmente ilíquidos. A tokenização conecta diretamente o universo cripto às finanças tradicionais, criando casos de uso claros e escaláveis, mesmo em um ambiente de maior aversão ao risco.
Na Bitget, já vemos esse movimento se refletindo na prática. O interesse por produtos ligados a RWA, ativos tokenizados e soluções que aproximam cripto do mercado financeiro tradicional tem crescido de forma consistente, e isso deve se acelerar ao longo de 2026. Esse tipo de oferta tende a ganhar ainda mais relevância em um mercado lateralizado, justamente por trazer diversificação, novas fontes de rendimento e maior previsibilidade para diferentes perfis de investidores.
Além disso, a consolidação da participação institucional, o uso de produtos regulados como ETFs e derivativos e o avanço regulatório continuam sendo pilares importantes para a maturidade do setor.
Stablecoins e crescimento do mercado
CTBR: Como a Bitget vê o avanço das stablecoins, carteiras digitais, mercados preditivos, bancos, mensageria e IA? Isso representa uma revolução “silenciosa”?
GP: A Bitget enxerga o avanço das stablecoins, das carteiras digitais, dos mercados preditivos, da integração com bancos, da mensageria e da inteligência artificial como uma evolução natural da infraestrutura financeira global.
Essas soluções avançam pela adoção prática: stablecoins já atuam como meios de pagamento e liquidação, carteiras digitais se consolidam como centros de acesso a serviços financeiros, e a integração com bancos e IA traz mais eficiência, segurança e uma experiência cada vez melhor para o usuário.
Mais do que novas narrativas, trata-se da consolidação de ferramentas que conectam o universo cripto às finanças tradicionais e ampliam os casos de uso do setor de forma sustentável.
Como empresa, a Bitget acompanha ativamente esse movimento para oferecer um ecossistema cada vez mais completo aos seus usuários. Hoje, contamos com a Bitget Wallet, uma das principais carteiras Web3 não custodial e multichain do mercado, além de um conjunto de soluções integradas que permitem aos usuários atender, dentro do nosso próprio ecossistema, praticamente todas as suas necessidades — de pagamentos e investimentos ao acesso a produtos mais avançados.
Por isso, a Bitget deixou de ser apenas uma corretora de cripto. Somos uma plataforma completa, que conecta cripto, tecnologia e finanças de forma simples, segura e integrada
Papel do Bitcoin na revolução cripto
CTBR: Nessa revolução, o papel do Bitcoin será apenas o de reserva de valor?
GP: Não. Embora o Bitcoin tenha se consolidado como a principal reserva de valor digital do mundo, esse é apenas o seu ponto de partida. Ele evoluiu para ser uma infraestrutura global de transferência de valor, essencial para proteção patrimonial e remessas internacionais.
Na visão da Bitget, o Bitcoin é o pilar de confiança do ecossistema: ele oferece a segurança de uma reserva de valorescassa, mas com a agilidade de uma rede tecnológica que permite inovação e integração com o sistema financeiro tradicional. No futuro, esses papéis não serão excludentes, mas sim complementares.
Regulamentação no Brasil
CTBR: Como a Bitget avalia a nova regulamentação do Banco Central para stablecoins?
GP: A nova regulamentação do Banco Central é um marco necessário que retira o setor da zona cinzenta e o coloca definitivamente no mapa do sistema financeiro formal. O enquadramento das stablecoins como ferramenta de transferência de valor reflete a maturidade do uso desses ativos para remessas e pagamentos, validando a eficiência que o mercado cripto já oferece na prática.
Acho que o ponto de atenção é que se evite uma carga tributária desproporcional, como o IOF de câmbio tradicional. O objetivo deve ser proteger o investidor sem retirar a vantagem de custo e agilidade que as stablecoins oferecem.
O objetivo central deve ser o equilíbrio, onde a regulação sirva como um trilho para o crescimento e para a integração com a economia real, garantindo que o Brasil continue na vanguarda da inovação financeira sem sufocar o acesso do usuário final.
CTBR: Como as regras de margem podem afetar as exchanges?
GP: As novas regras de margem e exigências de capital funcionam como um filtro de maturidade para o setor, trazendo para o universo cripto o rigor prudencial que já existe no sistema financeiro tradicional. O ponto mais positivo dessa mudança é o reforço da confiança, pois ao estabelecer limites de alavancagem e requisitos de capital, o Banco Central protege o ecossistema contra o crescimento desordenado que vimos em crises globais passadas.
Embora isso traga desafios de adaptação e custos operacionais mais elevados no curto prazo, o resultado final é um ambiente de negócios muito mais sólido. Essa maturidade é essencial para atrair o investidor institucional e o grande capital, que antes ficavam de fora justamente pela falta desses mecanismos de controle e solvência, consolidando o setor como um pilar seguro da economia digital.