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segunda-feira, dezembro 22, 2025

Do BBB à Universidade de Chicago: Gil do Vigor fala de economia do crime e educação

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Gilberto Nogueira, mais conhecido como Gil do Vigor, conquistou o Brasil em 2021 ao participar do Big Brother Brasil, mas sua trajetória começa muito antes da fama proporcionada pela TV.

Em uma conversa exclusiva com o InfoMoney Entrevista, Gil do Vigor mostrou o lado doutor Gilberto Nogueira, relevando os detalhes de uma sólida formação acadêmica, além de explicar sua tese de doutorado e compartilhar os planos futuros – que envolvem, sobretudo, a educação.

Economista formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde também concluiu o mestrado e iniciou seu doutorado, Gil foi posteriormente aprovado para o PhD na Universidade da Califórnia em Davis, que tem um dos programas mais renomados do mundo na área de economia.

Durante seu doutorado, Gil foi convidado para um visit, uma espécie de intercâmbio acadêmico mais breve, geralmente concedido a pesquisadores de alto nível, na Universidade de Chicago, no mesmo departamento que revelou um vencedor do Prêmio Nobel em 2024.

Com mais de cinco artigos científicos publicados, sendo três individuais e dois co-autorados, Gil também se tornou revisor do Journal of Development Economics, um periódico de referência mundial em economia do desenvolvimento.

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As pesquisas de Gilberto Nogueira

No mestrado, o foco da pesquisa acadêmica de Gil do Vigor foi a economia do crime, com ênfase na violência associada ao mercado de drogas e no papel da educação como mecanismo de proteção para jovens em situação de risco.

“No meu mestrado, desenvolvi um modelo matemático que explica a geração de violência pela intervenção policial no mercado de drogas, mostrando um paradoxo na literatura: uma parte defende a repressão como necessária, enquanto outra aponta que a ilegalidade do mercado é que gera a violência. Meu modelo demonstra que a repressão deve focar no ‘atacado’, ou seja, no ‘colarinho branco’, nos grandes traficantes, que normalmente a gente não vê sendo presos, e não no varejo, onde a substituição é rápida e constante”, explicou.

No PhD, Gil aprofundou ainda mais os estudos relacionados à violência no mercado ilegal de drogas e passou a investigar o impacto da educação na prevenção do recrutamento de jovens pelo crime. O resultado da pesquisa é significativo: jovens que retornam à escola após passarem por medidas socioeducativas têm 17% menos probabilidade de serem assassinados em comparação com aqueles que não retornam.

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“A educação salva. Não é apenas uma frase bonita, é um dado prático e comprovado. Se o jovem não voltar para a escola, ele aumenta muito a chance de continuar no crime e ter um fim trágico”, avalia Gil.

Keynesiano

Na entrevista Gil compartilhou a sua admiração pelo economista John Maynard Keynes, enfatizando que a teoria do multiplicador keynesiano o marcou profundamente quando começou a jornada de estudante de economia. Para Gil, Keynes explica de forma clara como o dinheiro na mão dos mais pobres tem um impacto muito maior na economia do que o dinheiro nas mãos dos mais ricos, que tendem a poupar em vez de consumir.

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“Quando comecei a estudar Keynes e fiquei fascinado pelo conceito do multiplicador: dar dinheiro para o pobre porque ele vai gastar, movimentar a economia, gerar emprego e renda. Isso faz toda a diferença, especialmente em momentos de recessão. Eu me identifico muito com essa visão.”

No horizonte

Após defender sua tese em Davis com êxito e conquistar a qualificação, o economista se prepara para depositar o trabalho em março de 2026 e colar grau em uma cerimônia na Califórnia em junho. Mas os estudos não param por aí. Já em agosto, inicia um pós-doutorado na Universidade de Chicago, onde continuará suas pesquisas.

Paralelamente, Gil do Vigor mantém o projeto social “Alô do Vigor”, que visa levar educação e conhecimento para jovens em diferentes regiões do Brasil, com planos de expansão para mais estados.

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E isso tudo acontece paralelamente à carreira de “economista artista” de Gil, que frequentemente participa de programas televisivos como o Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga, Encontro e até os telejornais da casa como comentarista de economia. Ele também foi confirmado como co-apresentador do Bate Papo BBB em 2026, programa que entrevista dos eliminados do reality show.

Leia os principais trechos da entrevista a seguir:

InfoMoney: Gil, a grande maioria do país te conhece por causa do BBB, mas nem todo mundo sabe por que você entrou no reality. Qual foi o motivo?

Gil do Vigor: A fama acabou acontecendo, mas não era o que eu queria. Eu estava aplicando para o PhD e deixei claro que não entraria para ficar famoso. Meu objetivo inicial no Big Brother era conseguir dinheiro para estudar. Um momento que mudou minha perspectiva foi quando minha mãe pegou Covid e não tínhamos plano de saúde. Fiquei muito fragilizado ao ver que, mesmo trabalhando, fazendo doutorado, eu não tinha condições de pagar um plano para ela. E naquele período da Covid foi a ciência que salvou as pessoas. Eu estava meio revoltado. Queria mostrar que a pesquisa salva vidas e que as pessoas precisam valorizar a ciência e a educação. Então, meus objetivos quando entrei no programa eram o dinheiro para estudar e falar sobre a importância da educação e da ciência.

InfoMoney: Quando você saiu do Big Brother e percebeu a dimensão da sua fama, você pensou em abandonar o PhD? A fama não te balançou?

Gil do Vigor: Nunca balancei. Fico até arrepiado de lembrar mas, enquanto eu fiquei na casa, aconteciam algumas ações e nós ganhávamos roupas. Eu imaginava que nos Estados Unidos estaria frio, então eu só separava roupas de frio, as mais pesadas, já imaginando que seria aprovado no PhD. No final eu tinha uma mala de roupas e pensava ‘Se eu não ganhar nem um real a mais, pelo menos eu tenho a roupa para viver durante o frio nos EUA’. Quando descobri que fui aprovado, fiquei muito feliz. Falavam pra mim (quando saí do programa) ‘Você vai ganhar dinheiro’. Mas sempre soube que dinheiro não compra conhecimento. Eu tinha muito claro para mim que, se o preço para eu ganhar dinheiro fosse abrir mão da minha educação, esse preço eu não iria pagar.

InfoMoney: Eu queria que você falasse do seu currículo Lattes: quais são suas formações e qualificações?

Gil do Vigor: Eu me formei em Economia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fiz mestrado também na UFPE e iniciei um doutorado lá, que não terminei para fazer o PhD na Universidade da Califórnia em Davis. Durante o PhD, fui convidado para um período de pesquisa na Universidade de Chicago. Tenho mais de cinco artigos, alguns premiados, e sou revisor do Journal of Development Economics, o maior periódico da área. Também tenho conhecimento em programação.

InfoMoney: Dentro da sua área, sua pesquisa está na econometria? Pode explicar o que é econometria?

Gil do Vigor: A econometria usa dados e modelos para responder perguntas sociais e econômicas. Por exemplo, comparo grupos de jovens que voltam ou não para a escola após um evento traumático, como a morte de um amigo, para analisar o impacto na educação e no comportamento. A econometria é uma ferramenta essencial para fazer análises quantitativas e entender fenômenos complexos da sociedade.

InfoMoney: Você gera muito conteúdo sobre finanças, ajudando brasileiros a entender conceitos. Onde você acha que está o maior erro na hora de gerir a renda do brasileiro?

Gil do Vigor: O maior erro não está no brasileiro, mas na estrutura da educação no Brasil. Falta um ensino efetivo de educação financeira desde cedo, tanto na escola quanto em casa. É importante ensinar a administrar o pouco dinheiro que se tem, guardar e investir para proteger contra a inflação. Muitas pessoas não sabem o que fazer com o dinheiro que sobra, e isso precisa mudar.

InfoMoney: O comportamento consumista no Brasil é cultural e forte. Você acredita que falta uma mudança geracional nesse comportamento?

Gil do Vigor: Sim, existem duas questões: a necessidade real e o consumo sem necessidade. Muitas pessoas gastam por necessidade, como comprar uma geladeira quebrada, mas também há consumo desnecessário que precisa ser controlado. É importante entender as reais necessidades, fazer metas para economizar e investir, e evitar gastos supérfluos.

InfoMoney: Quais temas econômicos você considera urgentes para entrar no debate popular?

Gil do Vigor: Precisamos debater a escassez, não só de dinheiro, mas de oportunidades. A meritocracia não funciona no Brasil porque as oportunidades não são iguais. Políticas públicas de inclusão são essenciais para garantir que o esforço seja recompensado. A desigualdade social desmotiva as pessoas, mesmo as qualificadas, porque elas não têm as mesmas condições de preparo.

InfoMoney: Você não acha que sua trajetória, o seu exemplo atesta a eficácia da meritocracia para algumas pessoas?

Gil do Vigor: Não. Atesta, não. Eu me lasquei muito. Não tive oportunidades fáceis. A desigualdade coloca barreiras que fazem com que alguns precisem se esforçar muito mais. Eu sou uma exceção, e não é justo que as pessoas tenham que sofrer tanto para conseguir algo. As políticas públicas foram fundamentais para que eu pudesse continuar estudando e sonhando.

InfoMoney: A fama não te cansa em algum momento?

Gil do Vigor: Não me cansa, porque eu vejo que meu conteúdo ajuda as pessoas. Se não fosse famoso, não teria esse alcance para falar sobre educação, ciência e finanças. Mostrar que é normal ter medo, sentir impostor, mas seguir em frente, é importante para muitos. O conhecimento liberta e ninguém pode tirar isso de mim.

InfoMoney: O prêmio do BBB foi de R$ 1,5 milhão. Você não venceu o programa, mas você já multiplicou esse valor quantas vezes?

Gil do Vigor: Olha, o que entra no bolso é diferente por causa de agenciamento e impostos. O dinheiro se multiplicou, tenho imóveis e investimentos que geram renda. Comprei uma casa para minha mãe à vista e hoje tenho uma vida financeira estável.

InfoMoney: Você cuida do seu dinheiro? É investidor?

Gil do Vigor: Eu que cuido. Sou investidor conservador, pelo menos no momento.

InfoMoney: Quais são seus planos futuros?

Gil do Vigor: Continuar com o projeto “Alô do Vigor”, levando educação para mais jovens, expandindo para outros estados. Já defendi o PhD e pretendo depositar a tese em março, colar grau em junho. Em agosto, começo pós-doc na Universidade de Chicago. Agora é cada vez mais ir equilibrando esses mundos: do Gil acadêmico e do Gil artista, apresentador. Mas o que mais desejo é construir, de maneira muito sólida, projetos que ajudem os jovens de maneira efetiva.

[Fonte Original]

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