Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO e nessa newsletter você encontra análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político.
No início da semana, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, teve uma conversa por telefone com o agora presidenciável Flávio Bolsonaro (PL). Embora tenha dito ao senador que seu partido só irá planejar o que vai fazer na corrida ao Planalto no ano que vem, as articulações para a disputa contra Lula já começaram: a ideia é colocar o projeto Ratinho Jr. (PSD) na rua em uma chapa que una o governador paranaense ao colega mineiro, Romeu Zema (Novo).
Ao contrário da esquerda, do Centrão, da Faria Lima e de boa parte da direita brasileira, Kassab deixou de acreditar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), conseguirá se viabilizar para concorrer contra o presidente Lula (PT) em 2026.
Zema não admite abertamente, mas está disposto, sim, a desistir de uma candidatura presidencial para integrar uma chapa mais competitiva. Segundo as pesquisas Datafolha e Ipec divulgadas nos últimos dias, o mineiro aparece na quinta posição, oscilando entre 6% e 5% das intenções de votos, em cenário com Lula, Flávio, Ratinho Jr. e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, também concorda com a ideia de ver o governador na vice de um presidenciável de direita — com exceção de Caiado, que pontua de maneira semelhante nas diferentes sondagens eleitorais. Ouvido por muita gente do mundo político atualmente em conversas privadas ou palestras, o fundador da Quaest, Felipe Nunes, vem sendo um dos maiores entusiastas da hipótese Zema vice como elemento estratégico para uma possível vitória da direita: acha que Minas Gerais pode ser decisiva na disputa com a presença do político do Novo na chapa, tese que vem ganhando corpo em caciques experientes como Gilberto Kassab.
— Se o Tarcísio perder o timing da viabilidade política, a terceira via de direita pode ocupar esse espaço com uma dupla como Ratinho e Zema. Kassab está enxergando isso — afirma Felipe Nunes.
O projeto de candidatura ao Planalto do presidente do PSD enfrenta dois obstáculos. No fim de outubro, “Jogo Político” mostrou como o empresário Carlos Massa, pai de Ratinho Jr., se posicionava contra o filho concorrer contra Lula no ano que vem. Essa semana, ficou claro que, além disso, há risco de derrota do grupo político ligado ao governador no Paraná devido ao ótimo desempenho do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) nas pesquisas para governador, e pelo racha na base de Ratinho Jr. sobre quem será o escolhido para se candidatar.
O governador quer indicar o secretário de Cidades, Guto Silva (PSD), como sucessor, mas outros dois correligionários se movimentam: o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi, e o ex-prefeito de Curitiba Rafael Greca, ambos também do PSD. Dois políticos experientes paranaenses deram as suas impressões sobre a atual conjuntura no estado.
— Acredito que Ratinho Jr. ficará até o fim do mandato para emplacar o Guto, que hoje não tem viabilidade — afirma o deputado estadual Requião Filho (PDT), pré-candidato a governador apoiado pela esquerda.
— Todos querem ser o candidato do Ratinho e estão aguardando a decisão dele. O PP também pode abrir as portas para o Greca ou o Curi serem candidatos a algo— completa o deputado federal Ricardo Barros, presidente do diretório estadual do PP, com ameaça de filiação que consolidaria ainda mais a divisão na direita paranaense.
Se Ratinho Jr. não topar a aventura presidencial, Kassab ainda tem o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), como opção. Dele, por ora, Zema não anima ser vice.
Chegou o dia de discordar um pouco do célebre bonequinho do GLOBO, que se posicionou dormindo com o novo filme de George Clooney disponível no Netflix. O filme trata de um astro do cinema, vivido pelo ator, que descobre depois dos 60 anos que não deu a devida atenção à família ao longo da vida.
As pessoas estão com pouca paciência para falar da crise da masculinidade? Entendo. Menos ainda para ouvir sobre o vazio existencial de ricos e famosos? Também entendo. Mesmo assim, achei ótimo o entretenimento proporcionado por Clooney e Adam Sandler, que interpreta o seu fiel agente. E há reflexões menos batidas do que as citadas acima. Uma delas, refletida em uma frase de Jay Kelly sobre sua vontade de circular sem seguranças nos mais diferentes ambientes para ser um profissional melhor: “Como vou interpretar pessoas se não convivo com pessoas?”
Quatro trechos diferentes de críticas que reuni para você, leitor. Duas positivas e duas negativas:
- “‘Jay Kelly’ poderia ser um ‘Memórias’, de Woody Allen, sem a neurose, misturado com elementos de ‘Noite americana’, de Truffaut. Mas consegue ser apenas um ligeiro passatempo Netflix que descamba no sentimentalismo — os fãs de Clooney provavelmente não se incomodarão”, escreve Marcelo Janot, no GLOBO.
- “Pode-se dizer, não sem razão, que esses sentimentos a respeito de fama, fracasso e família não são o que de mais profundo o mundo —incluído o cinema— já criou. Pode ser. Mas o cinema de Noah Baumbach (diretor do filme) sempre teve como alvo a diversão do espectador. Ele é bem clássico nesse sentido”, analisa Inácio Araujo, na Folha.
- “Bem filmado e com paisagens lindas, Jay Kelly se apresenta como um filme de reflexão sobre carreira e fama (até comportamento de internet entra no balaio), mas que nunca chega a discutir nada. O propósito parece sempre direcionado para uma indulgência com o personagem-título e com o próprio protagonista, que só querem fazer as pazes com o mundo que os viu brilhar. E se já não bastasse o filme se estabelecer como essa biografia ‘quero-ser-fofa’ de astros como Clooney, Baumbach ainda decide encerrar tudo com o maior dos tapinhas nas costas de seu astro. Mas a verdade é que Clooney merecia uma homenagem mais caprichada — e não essa peça com cara de propaganda, parecida com aquelas em que ele volta e meia aparece na TV vendendo máquina de café ou relógios de luxo”, afirma Alexandre Almeida, no site Omelete.
- “No conjunto, é um filme muito bom, sólido, elegante, com dois grandes atores no centro: Clooney fazendo justamente o que só Clooney poderia fazer, e Sandler entregando uma performance inesperadamente sensível, talvez o melhor elemento da obra. É um filme sobre envelhecer, sobre remorso, sobre descobrir tarde demais que a vida não aceita ‘mais um take’, mas também sobre o deslumbre com a vida hollywoodiana, com todas as suas qualidades e percalços”, pontua Kevin Rick, no site Plano Crítico.