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quinta-feira, dezembro 4, 2025

Na primeira visita desde o início da guerra na Ucrânia, Putin vai à Índia para reunião estratégica com Narendra Modi

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O presidente russo, Vladimir Putin, deu início nesta quinta-feira a uma viagem oficial à Índia, país que fortaleceu seu status de parceiro estratégico da Rússia desde o início da guerra na Ucrânia, e que tenta equilibrar, dentro de seu conceito de “autonomia estratégica”, os laços com Moscou e com países antagônicos ao Kremlin. A viagem ocorre em um momento complexo para Putin, com as negociações de um plano para o conflito, e com o governo americano cada vez mais impaciente por um acordo de paz para chamar de seu.

Putin chegou à base aérea de Palam, em Nova Délhi, onde foi recebido pelo premier Narendra Modi. Os dois líderes, que nutrem uma cordial relação, seguiram para um jantar oficial, a bordo do mesmo veículo, e terão uma série de eventos, incluindo uma reunião bilateral, na sexta-feira.

— O principal é que as visões dos dois países para o futuro do nosso planeta são em grande parte convergentes. Isso é o mais importante — afirmou ao canal Rússia 1 o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Rússia e Índia mantêm laços estreitos há décadas, herdados dos tempos da finada União Soviética. Os russos, por exemplo, são os maiores fornecedores de equipamentos militares aos indianos e, mais recentemente, a Rússia passou a ver com bons olhos a mão de obra indiana, de modo a sanar a crescente falta de trabalhadores. Politicamente, Putin e Modi trazem semelhanças em seus estilos de governar, que incluem ações consideradas pouco democráticas, como a perseguição a opositores.

Mas essa relação histórica ganhou novos contornos após a decisão de Putin de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Com os mercados ocidentais fechados às suas commodities energéticas, especialmente o petróleo, Moscou encontrou em Nova Délhi um excelente cliente, que foi atraído também pelos generosos descontos oferecidos sobre o preço do barril, uma forma de compensar os riscos políticos. Antes do conflito, o petróleo russo correspondia a apenas 2,5% das compras indianas — em 2025, a cifra chegou a 35%.

Presidente da Rússia, Vladimir Putin (E) ao lado do premier da Índia, Narendra Modi, em Nova Délhi — Foto: Grigory SYSOYEV / POOL / AFP

Contudo, a imposição de tarifas de 50% por parte do governo americano, ligadas às compras de petróleo russo, e a inclusão das duas maiores petrolíferas russas na lista de sanções americanas levou a uma queda nas importações, e Putin deve levar uma mensagem clara, em tom de apelo, a Modi: continue a comprar nosso petróleo, apesar dos pesares (e da pressão da Casa Branca).

— Pode haver alguma redução nas compras de energia sob pressão dos EUA — disse Nandan Unnikrishnan, da Observer Research Foundation, em Nova Delhi, à AFP. — Mas a direção geral das relações será mantida porque ambos os países precisam um do outro no nível estratégico.

As fotos sorridentes ao lado de Modi — como as que tiraram em setembro, em outro encontro bilateral — são para Putin uma forma de mostrar ao Ocidente que não está tão isolado assim. Embora sem um aguardado segundo encontro com o presidente americano, Donald Trump, o líder russo tem mantido a agenda de visitas ao exterior, mesmo que com uma lista de destinos limitada.

Em setembro, foi à China acompanhar o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial no Pacífico, e em agosto, foi ao Alasca para um encontro com Trump, além de viagens a Tadjiquistão, Quirguistão e Bielorrússia . No caso da viagem à Índia, a ordem internacional de prisão emitida em 2023 pelo Tribunal Penal Internacional não é um motivo de preocupação, uma vez que o país não é signatário do Estatuto de Roma, que rege a corte. Nos últimos três anos, Putin evitou eventos multilaterais, como as cúpulas do G20, por conta da ameaça de prisão e do desconforto de outros líderes com sua presença à mesa.

— Acredito que o Kremlin está convencido de que o Ocidente, incluindo a Europa, fracassou completamente — afirma o colunista do Novaya Gazeta, Andrei Kolesnikov, ouvido pela rede BBC. — Não estamos isolados, pois temos conexões com a Ásia e o Sul Global. Economicamente, este é o futuro. Nesse sentido, a Rússia retornou como o principal ator nessas partes do globo, assim como a União Soviética.

Para Modi, apesar das críticas do Ocidente e alguns aliados na Ásia, receber Putin também é um sinal de força política no cenário internacional. Dentro da lógica de sua “autonomia estratégica”, o premier indiano mostra que não cedeu à pressão dos EUA, mesmo diante do tarifaço, para romper os laços com Moscou. Segundo a imprensa russa, a pauta de discussões prevê planos para iniciar a produção conjunta de jatos de combate Sukhoi Su-57, o fornecimento de sistemas de defesa aérea S-400 e o arrendamento de um submarino russo, por 10 anos, ao custo de US$ 2 bilhões.

“Para a Índia, o desafio é o equilíbrio estratégico: proteger a autonomia, ao mesmo tempo que lida com a pressão de Washington e a dependência de Moscou”, afirmou, em artigo, a Global Trade Research Initiative (GTRI), um centro de estudos com sede em Nova Delhi.

Para a Índia, manter os russos perto ajuda a conter aquela que vê como a maior ameaça à sua existência: a China.

— Do ponto de vista indiano, apesar de toda a conversa sobre a Rússia ser uma grande e leal amiga, a verdadeira razão pela qual essa relação é importante é a geografia — disse Aparna Pande, diretora da iniciativa Índia e Sul da Ásia do Instituto Hudson, ao jornal britânico Guardian. — A China continua sendo a maior ameaça para a Índia num futuro próximo e, desde a União Soviética, a Índia sempre contou com a Rússia como um contrapeso continental contra a China.

A alguns milhares de quilômetros de Nova Délhi, representantes dos EUA e da Ucrânia se reúnem para discutir o plano de paz proposto pela Casa Branca há cerca de duas semanas, que passa por revisões e adaptações de lado a lado. Na terça-feira, negociadores americanos foram a Moscou se encontrar com Putin, por quase cinco horas, e saíram de lá sem compromissos, apenas palavras encorajadoras. Agora levam aos ucranianos as novas ponderações russas.

Um dos maiores entraves é a exigência do Kremlin sobre os territórios ocupados em solo ucraniano: a Rússia quer que eles sejam cedidos em sua totalidade, e que a anexação seja reconhecida internacionalmente, o que a Ucrânia rejeita. O texto inicial, chamado de “lista de desejos russa” pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio (uma fala que ele não reconhece) previa a cessão territorial, limites ao tamanho das Forças Armadas ucranianas e medidas como um veto permanente à entrada do país na Otan. Além de questionar as demandas, Kiev exige a presença de garantias de segurança contra futuras agressões, algo que a primeira versão do texto não prometia explicitamente.

[Fonte Original]

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