Enquanto mapeiam votos e fazem as costuras políticas no Senado, aliados de Jorge Messias acreditam que ele vá contar com um apoio importante, mas silencioso, na batalha para driblar a resistência do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e conseguir os 41 votos necessários para confirmar a sua indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Pelo menos cinco aliados de Messias ouvidos reservadamente pelo blog calculam que muitos senadores evangélicos, inclusive os bolsonaristas, podem votar favoravelmente mesmo que nunca admitam em público.
A análise da indicação de Messias está marcada para o próximo dia 10 e o voto é secreto, o que abre margem para traições de todos os lados.
“Os senadores não podem declarar apoio para o Messias para não se queimar com os seus eleitores bolsonaristas nem se indispor com Davi”, resume um integrante da Frente Parlamentar Evangélica ouvido reservadamente pelo blog. “A pressão está grande e ninguém quer sofrer represália do Alcolumbre.”
Um estudo do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), aponta que a bancada evangélica saltou de 7 para 13 senadores entre as eleições de 2018 e 2022. No foco desses parlamentares estão temas como aborto, união homoafetiva, pesquisas com células tronco, “Escola sem Partido” e “ideologia de gênero”, todos já judicializados perante o STF.
“Esse apoio pode fazer a diferença, porque nossa previsão é de um placar apertado”, afirmou um interlocutor de Messias, que aposta numa aprovação na faixa entre 45 e 48 votos – para ser confirmado no cargo, o advogado-geral da União precisa de, ao menos, 41 votos favoráveis.
Do lado de Alcolumbre na “guerra dos números”, a conta é que Messias só tem hoje entre 28 e 31 votos e conseguiria baixa adesão entre os evangélicos, apesar do empenho de uma de suas principais aliadas na Casa, a senadora evangélica Eliziane Gama (PSD-MA).
Uma das dificuldades no caminho de Messias é superar a resistência de uma ala de parlamentares que o vê como um “quadro ideológico do PT” e “homem de confiança do Lula e da Dilma”, e para quem o “rótulo de evangélico não cola”.
“Não convence esse aspecto de Messias ser evangélico, isso não vira voto para ele aqui, porque as condutas dele demonstram alinhamento ideológico político ao PT e ao Lula, não religioso”, alfineta um parlamentar da tropa de choque bolsonarista.
Conforme antecipou a equipe da coluna, um dos principais cabos eleitorais de Messias para angariar apoio entre os senadores evangélicos é o ministro do STF André Mendonça, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2021.
Os dois chefiaram a Advocacia-Geral da União (AGU), são evangélicos – Messias é membro da Igreja Batista, enquanto Mendonça é pastor da Igreja Presbiteriana – e também sofreram nas mãos de Alcolumbre.
No caso de Mendonça, Alcolumbre, que era na época presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, segurou por mais de quatro meses a realização da sabatina e articulou nos bastidores não só pela rejeição do “terrivelmente evangélico”, mas também para emplacar na vaga o então procurador-geral da República, Augusto Aras.
Agora, Alcolumbre mudou de estratégia para implodir as chances de Messias. Decidiu marcar a sabatina e a votação para o próximo dia 10, dando para o escolhido de Lula um prazo de apenas duas semanas para peregrinar pelos gabinetes do Senado em busca de apoio.
O presidente da República, no entanto, ainda não enviou a mensagem ao Senado em que formaliza a indicação de Messias, o que tem sido visto nos bastidores como uma forma do Palácio do Planalto tentar travar o processo e forçar o adiamento da sabatina.
Não funcionou, porque Alcolumbre já mandou avisar que, uma vez que a indicação já foi publicada no Diário Oficial da União, a sabatina pode ser realizada.
Lula, no entanto, está disposto a entregar o documento pessoalmente a Alcolumbre num gesto de pacificação.
Além de Mendonça, o ministro Kassio Nunes Marques – que também foi indicado ao cargo por Bolsonaro e possui bom trânsito entre parlamentares conservadores – também está ajudando a campanha de Messias no Senado.
Lideranças evangélicas apostam na confirmação de Messias para reforçar o “bloco conservador” do STF e impedir o avanço de pautas progressistas, como a descriminalização do aborto e a participação de crianças e adolescentes em paradas do orgulho LGBTQIA+.
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Para esses aliados de Messias, o advogado-geral da União pode se aliar a uma ala mais conservadora do STF, que incluiria Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Luiz Fux (que já disse que a Corte precisa “decidir não decidir” em casos que seriam de responsabilidade do Congresso) e os dois ministros indicados ao tribunal por Bolsonaro – Nunes Marques e Mendonça.
Esses ministros não atuam como um bloco homogêneo que vota sempre alinhado em temas como aborto, descriminalização das drogas e pautas de interesse da comunidade LGBTQIA+.
Mas são magistrados que os conservadores identificam como sendo mais alinhados a seus valores – e que são mais resistentes à interferência do Poder Judiciário em temas que seriam de competência do Congresso.
Na história da República, apenas o presidente Floriano Peixoto teve indicações rejeitadas pelo Senado — cinco ao todo, todas em 1894, entre elas a do médico Barata Ribeiro, que batiza rua no bairro de Copacabana, no Rio.