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segunda-feira, dezembro 8, 2025

Torcedores precisam se tornar investidores

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O futebol é a maior paixão dos brasileiros, e agora dados mostram que essa paixão pode impulsionar o maior movimento de inclusão financeira da história do mercado de capitais. Pesquisa da CBF Academy com a AtlasIntel revela que 23,5% dos torcedores, cerca de 50 milhões de brasileiros, investiriam em ações de clubes. É quase dez vezes mais que o total atual de investidores na B3.

A abertura de capital pode ser um passo estratégico para modernizar o futebol, ampliar a governança e dar escala à relação econômica entre torcedores e clubes. No mundo, vários clubes têm ações em Bolsa, alguns com free float (parcela que não está na mão dos controladores) superior a 60%, como Borussia Dortmund ou Celtic. Colo-Colo e Universidad Católica, no Chile, contam com investidores brasileiros. O Benfica, depois de resultados recordes, atingiu neste ano sua maior cotação.

No século XVII, Portugal dominava o comércio marítimo até a Holanda criar a Companhia das Índias Orientais, primeira empresa a emitir ações públicas. Ao permitir que milhares de cidadãos se tornassem acionistas, os holandeses democratizaram o investimento, ampliaram a escala das operações, superaram o modelo português baseado em capitais fechados e lançaram as bases do mercado financeiro moderno.

Os clubes brasileiros vivem momento semelhante. Precisam de capital, enfrentam endividamento crescente e buscam novas fontes de receita para competir globalmente. A abertura ao mercado de capitais pode permitir a troca de dívidas caras, financiar infraestrutura, profissionalizar a gestão e aproximar o torcedor das decisões financeiras das instituições.

A própria história dos clubes reforça essa lógica. A maioria nasceu como associações sustentadas por seus sócios, com cotas, ingressos e vida comunitária intensa. Na última década, o país assistiu à explosão do sócio-torcedor. Eles saltaram de cerca de 150 mil para mais de 2 milhões, tornando-se fontes relevantes de receita.

O mercado de capitais amplia essa vocação, especialmente em paralelo ao crescimento das apostas esportivas, que revelam um torcedor cada vez mais disposto a apostar no futebol. Comprar ações, nesse contexto, é apostar na gestão, na transparência e no futuro. A pesquisa mostra que 40% dos interessados investiriam para fortalecer seu time e 60% buscariam retorno ou diversificação, até comprando ações de clubes rivais bem administrados.

Para que isso se torne realidade, é indispensável responsabilidade financeira, transparência, limites de gastos e modelos de negócio capazes de gerar caixa — aspectos que tendem a ser estimulados pelo sistema de fair play financeiro que a CBF começa a implantar. Já existem também sinais concretos do potencial de investimento popular. A conversão de ativos em tokens digitais (tokenização) de direitos creditórios ligados ao Mecanismo de Solidariedade da Fifa, realizada por Vasco e Santos, e iniciativas como a vaquinha do Corinthians, que arrecadou mais de R$ 40 milhões, mostram que o torcedor quer participar, não apenas consumir.

O Brasil pode reinventar o futebol ao transformar paixão em patrimônio, criando mecanismos modernos, seguros e acessíveis para que o torcedor possa investir nos clubes, protegendo-os de aventureiros e investidores predatórios.

Nenhum outro país reúne condições tão favoráveis: uma das maiores economias globais, clubes com as maiores torcidas do mundo e um esporte que é prioridade nacional. Se clubes, reguladores e torcedores compreenderem esse caminho, o país poderá dar início à era do torcedor-investidor, com o futebol impulsionando o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro e inaugurando um novo ciclo de desenvolvimento para o esporte.

*Pedro Trengrouse é presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB-RJ

[Fonte Original]

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