Empolgado pela linha de conflito adotada pelo governo e pelo PT depois da crise causada pela derrubada do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um evento na Petrobras nesta sexta-feira para deixar explícito o plano de disputar o Palácio do Planalto pela sétima vez, no próximo ano.
Nos bastidores, a estratégia de usar as redes sociais para propagar a defesa da justiça tributária, apesar de implantada no susto e sem planejamento, vem sendo comemorada por ter mobilizado as bases e tirado o partido da defensiva. Segundo um petista, o governo passou a operar no modo campanha. Auxiliares de Lula têm propagado que pesquisas internas já apontaram uma melhora da popularidade.
Há uma percepção de que o presidente, que enfrenta má avaliação de sua gestão e questionamentos por não ter uma realização marcante para apresentar à população, encontrou, enfim, uma bandeira para levar para a corrida eleitoral de 2026.
Diante desse cenário, Lula decidiu dar um passo além ao tratar dos seus planos para o futuro. Até então, falava sobre candidatura à reeleição, quando perguntado em entrevistas, e sempre fazia a ressalva de que poderia entrar na disputa se estivesse bem de saúde. Agora, abordou o tema em um discurso de livre e espontânea vontade e não deixou muita margem para reavaliar a rota traçada.
Após a empolgação dos governistas com o novo momento, resta saber se o Planalto vai optar por manter a temperatura da disputa política elevada ou se irá se valer do capital angariado para repactuar a relação com o Congresso. Há um temor entre algumas lideranças pelo fato de que, numa estratégia claramente alinhada com postagens do PT e do governo em favor da taxação dos mais ricos, perfis de esquerda passaram a disparar ataques em que vinculam parlamentares em geral (e o presidente da Câmara, Hugo Motta, em particular) à defesa de privilégios.
Se seguir o primeiro caminho, o Planalto corre o risco de ver a pauta do governo ser inviabilizada pelo Congresso, além de estimular na sociedade um discurso anti-política que pode abrir espaço para o surgimento de outsiders. Caso decida conciliar, Lula pode jogar um balde de água fria na empolgação dos seus simpatizantes e levá-los novamente à apatia. Nesta sexta-feira na Petrobras, o presidente aparentemente tentou uma modulação entre os dois caminhos. Bateu mais uma vez na necessidade de promoção da justiça tributária, mas se disse “grato ao Congresso”, que, na sua contabilidade turbinada, “aprovou 99% das coisas que mandamos”.