O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, defendeu nesta quarta-feira o julgamento da trama golpista, que terminou na semana passada com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus por uma tentativa de golpe de Estado, e criticou as sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos.
De acordo com Barroso, não existiu “caça às bruxas nem perseguição política”, como foi argumentado por integrantes do governo americano.
— Não existe caça às bruxas ou perseguições políticas. Tudo o que foi feito baseou-se em provas, evidências exibidas publicamente — declarou Barroso, no início da sessão do plenário do STF.
Entre as provas, o ministro citou o Punhal Verde e Amarelo, documento elaborado pelo general da reserva Mario Fernandes que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin, antes que eles tomassem posse, e do ministro Alexandre de Moraes.
Barroso destacou que Fernandes confessou elaborar o documento e ironizou a justificativa do general de que era um “pensamento digitalizado”.
— Houve prova documentada da existência de um plano para assassinar o presidente eleito, o vice-presidente e um ministro do Supremo. Prova documental e confissão. Está certo, era um “pensamento digitalizado”. Mas existiu e foi impresso diversas vezes.
O presidente do STF também comentou diretamente as retaliações impostas ao Brasil pelo governo dos Estados Unidos com base no julgamento, como o aumento para 50% da tarifa aos produtos brasileiros e a cassação de vistos.
— É profundamente injusto punir o Brasil, punir os brasileiros, punir as empresas brasileiras, os trabalhadores brasileiros, por uma decisão foi amplamente baseada em provas, acompanhada por toda a imprensa internacional e não é justo punir os ministros que com coragem e independência cumpriram o seu papel.
Barroso ainda destacou pesquisas de opinião que mostram que a maioria da população considera que houve uma tentativa de golpe.
— No Brasil, a ampla maioria da sociedade reconhece que houve uma tentativa de golpe e que foi importante julgar os seus responsáveis. Essa é a verdade dos fatos. contada objetivamente.
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, mas ainda pode apresentar recurso antes de ter que começar a cumprir essa pena.
Para o presidente do STF, a Corte deu um “exemplo para o mundo, inclusive de pluralismo”. A condenação de Bolsonaro e da maioria dos réus ocorreu por quatro votos a um.
— Acho mesmo que nós demos um bom exemplo para o mundo, inclusive de pluralismo e de diferentes visões de mundo, o que faz parte da vida democrática. Impossível exagerar o que isso representou para a institucionalidade brasileira.