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- Author, Ruth Clegg
- Role, Repórter de Saúde e Bem-Estar da BBC News
Quando se trata de colágeno, como você o toma?
O suplemento ganhou espaço até em festas, onde há quem o consuma em doses, às vezes seguidas por tequila, embora bebidas alcoólicas não sejam recomendadas para manter a pele jovem e radiante.
O colágeno é a proteína mais abundante do corpo humano. Ele dá sustentação à pele e ao sistema musculoesquelético.
Em resumo, ajuda a manter a firmeza da pele, fortalece ossos e articulações e contribui para a saúde de cabelos e unhas.
O colágeno tornou-se tão valorizado que alguns dermatologistas recomendam “estocá-lo”: investir no suplemento cedo, para acumular reservas antes do desgaste inevitável do organismo.
A partir dos 20 ou 30 anos, o corpo passa a perder colágeno de forma natural, em média 1% ao ano.
A velocidade dessa queda varia de acordo com fatores como exposição solar, alimentação e níveis de estresse.
A questão é: existem evidências científicas confiáveis de que os suplementos realmente repõem esse estoque em declínio? E, se sim, qual a forma mais eficaz de consumi-los?
O que dizem os estudos sobre benefícios e riscos?
De forma geral, muitas afirmações da publicidade sobre os produtos de colágeno por via oral não resistem às pesquisas. Na União Europeia, “nenhuma alegação de propriedade de saúde para suplementos de colágeno conseguiu aprovação”, explica Leng Heng, cientista sênior de nutrição humana da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês).
A EFSA é a agência da União Europeia que determina os riscos relativos a alimentos novos. Ela examinou o colágeno e concluiu que os benefícios à saúde atribuídos à proteína não foram confirmados por evidências suficientes de alta qualidade, até o momento.
Eles “não foram suficientemente definidos, não houve estudos humanos de apoio ou foram baseados em evidências de pesquisas com animais e de laboratório, que não podem prever os efeitos em seres humanos”, segundo Heng.
Ela destaca que alegações como a ideia de que o colágeno ajuda a manter a elasticidade da pele, ou que melhora o funcionamento das juntas, ainda não foram suficientemente demonstradas pelas pesquisas científicas.
O professor Faisal Ali, dermatologista consultor do Mid Cheshire Hospital, afirma que um dos problemas enfrentados por consumidores e médicos é a quantidade de informações conflitantes e os interesses concorrentes na pesquisa sobre suplementos.
Um estudo recente, relativamente pequeno, comparou pesquisas financiadas pela indústria do bem-estar com estudos sem o mesmo conflito de interesses.
Enquanto os estudos financiados pela indústria sugerem que suplementos de colágeno melhoram significativamente a hidratação, a elasticidade e reduzem rugas da pele, os não financiados por empresas farmacêuticas não mostram efeito algum.
“A realidade de muitos desses estudos é que é difícil encontrar qualquer um deles que seja totalmente independente da indústria”, afirma o pesquisador clínico em reumatologia David Hunter, da Universidade de Sydney, na Austrália, estudioso da osteoartrite.
Ali ressalta que pesquisas financiadas pela indústria não são “intrinsecamente ruins”, mas apresentam resultados muito mistos.
Ainda assim, ele afirma que faltam evidências sólidas de que o colágeno oral ou tópico tenha efeito substancial.
“Então, se eu pudesse voltar no tempo e começar a tomar e armazenar colágeno aos 20 anos, teria hoje uma pele mais lisa e jovem?” pergunto.
“Provavelmente não”, responde. “Ele não permanece no corpo por tanto tempo; não temos uma reserva de colágeno que possamos usar facilmente.”

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Uma análise sistemática e meta-análise concluiu que o colágeno hidrolisado pode ter efeitos benéficos para a pele, aumentando, por exemplo, a hidratação e a elasticidade. Mas seus autores concluíram que seria necessário pesquisar mais para confirmar estes efeitos.
No entanto, Ali acredita que é possível aumentar a produção de colágeno e manter a elasticidade da pele por meio de técnicas especiais, como estimulação a laser e microagulhamento.
O procedimento envolve o uso de pequenas agulhas especializadas ou de um laser para fazer incisões mínimas na pele, estimulando o processo de reparo e desencadeando a formação de novo colágeno.
O custo, no entanto, é alto: até US$ 400 (cerca de R$ 4300) por sessão. Existe uma alternativa mais acessível?
“A melhor coisa que você pode fazer pela sua pele”, diz Ali, “é usar um bom protetor solar. Sabemos que o sol tem um enorme impacto no envelhecimento da pele.”
“Protetor solar, uma dieta saudável e, se você fuma, pare. Isso terá um impacto muito maior do que os suplementos de colágeno.”
Segundo estudos, os riscos à saúde dos indivíduos pela suplementação com colágeno aparentemente são baixos, mas existem possíveis consequências maiores da demanda crescente pela substância. Os suplementos de colágeno de origem bovina, por exemplo, já foram relacionados ao desmatamento no Brasil.
Paralelamente, a Comissão Europeia encomendou pesquisas sobre a possibilidade de que o colágeno ou a gelatina possam gerar novos casos de encefalopatia espongiforme transmissível (EET, ou doença de príon). A EFSA estimou a exposição oral de seres humanos a gelatina infectada em cenários hipotéticos, considerando o pior dos casos, e concluiu que o risco era ínfimo ou inexistente.
O aumento da ingestão de uma proteína como colágeno pode ser uma preocupação para pessoas com condições renais ou hepáticas que afetem o metabolismo das proteínas, afirma o professor de fisiologia neuromuscular Robert Erskine, da Universidade John Moores em Liverpool, no Reino Unido.
Além disso, como ocorre com qualquer suplemento, existe o risco de interação com outros remédios. Por isso, Hunter aconselha a qualquer pessoa que esteja considerando a ingestão de um suplemento que converse primeiramente com um profissional de saúde.
O caminho do colágeno
Kimberlie Smith começou a tomar colágeno há seis meses. Aos 33 anos, após um ano traumático em 2024, decidiu investir no suplemento.
Seu filho nasceu prematuro, e ela, mãe de três filhos, conta que o estresse afetou muito sua pele. Desde então, consome diariamente colágeno marinho — derivado de peixes — em um gel com sabor tropical.
“Minha pele parece mais brilhante e clara, e meu cabelo nunca esteve melhor desde que comecei a tomar”, diz Smith. “Como mãe privada de sono, definitivamente fez a diferença.”

Crédito, Kimberlie Smith
Emma Wedgeworth, dermatologista consultora na Harley Street, em Londres, afirma que, embora existam pesquisas sugerindo impacto positivo do consumo oral de colágeno, ela se mantém cética.
Segundo Wedgeworth, a ideia de que a substância percorre o corpo e chega exatamente onde é necessária é provavelmente ilusória.
Para começar, o colágeno precisa atravessar o intestino sem ser totalmente decomposto.
O colágeno é uma molécula grande, então as empresas passaram a quebrá-lo em fragmentos menores, chamados peptídeos de colágeno ou colágeno hidrolisado.
Embora, em sua forma menor, o colágeno tenha mais chances de atravessar a parede intestinal e chegar à corrente sanguínea, o trajeto até a pele ainda é longo.
Ele precisa atingir a pele para fazer efeito, mas a substância pode ser facilmente desviada para auxiliar outros órgãos, já que é considerada um recurso valioso.
“Há poucas evidências confiáveis sobre isso, mas existe a teoria de que, por a pele ser o órgão com ‘renovação celular mais rápida’, teria maior propensão a utilizar esses peptídeos de colágeno do que outros órgãos.”
Nesse caso, seria possível observar aumento da produção de colágeno nas células cutâneas.

Crédito, Matthew Montgomery
Tudo isso pode soar complexo e pouco conclusivo. Surge então a dúvida: e os cremes de colágeno? Aplicados diretamente na pele, não teriam mais chances de agir onde é necessário?
“Não”, responde Wedgworth. “O colágeno fica depositado apenas na camada externa da pele; não alcança a derme, que é a camada intermediária.”
Há três tipos principais de suplementos de colágeno: marinho (extraído de peixes), bovino e vegano. Para ingestão oral, a dermatologista recomenda o marinho, por conter maior concentração de colágeno tipo 1 — o mais comum entre os cinco tipos existentes, responsável por dar estrutura às células da pele e essencial para ossos, tendões e tecidos conjuntivos.
O colágeno vegano é o menos eficaz, afirma Wedgworth. Como o colágeno é uma proteína de origem animal, esses produtos não contêm colágeno de fato, mas sim uma combinação de aminoácidos e vitaminas.
‘Eu não consigo parar’
“Fui capturada”, diz Ali Watson, apontando para os pacotes de colágeno bovino em pó na cozinha. “Sim, este é para mim e, bem, este é para o Tommy.”
Olho para o cãozinho marrom e magro ao meu lado, com bigodes grisalhos aparecendo ao redor do focinho. Ele ergue uma sobrancelha em sinal de reconhecimento.
Watson é uma neuroanestesista que — como ela mesma admite — “sabe muito sobre dosagens”. Ela afirma que, desde que começou a tomar colágeno, não consegue imaginar parar, nem deixar de dar o suplemento ao cachorro.
“Comecei a tomá-lo em pó há alguns anos. No início, não era pela minha aparência, mas pelas articulações; queria protegê-las porque faço muito levantamento de peso.”
Watson não tem certeza se notou alguma diferença em suas articulações, mas notou uma mudança em outras partes.
“Sinto a pele mais brilhante, o cabelo mais grosso e as unhas mais fortes.”
Olho para Tommy, que parece mais interessado na ração do que em qualquer suplemento em pó.
“Eu sei, parece loucura”, diz Watson, “mas Tommy parecia um pouco mais lento, um pouco menos entusiasmado, pouco antes do verão, então pensei em experimentar colágeno para cães.”

“Queria ver se ajudaria nas articulações dele; ele está envelhecendo. E está um pouco mais alerta, mas isso pode ser porque está mais frio de novo e ele está com menos calor e letárgico.”
Watson não está totalmente convencida de que o suplemento esteja fazendo diferença, e custa a ela US$ 80 por mês (cerca de R$ 430) para garantir que ela e Tommy recebam sua dose diária.
Mas Watson diz que não pode parar agora. “É isso que acontece com esses suplementos”, observa a mulher de 46 anos: “A vida tem seus altos e baixos. Você pode tomá-los quando estiver se sentindo mal, e então as coisas melhoram, e isso pode ter muito pouco a ver com os suplementos.”
“Mas quando você chega a esse ponto, não pode correr o risco de deixá-los.”
De forma geral, considerando as muitas razões que podem levar alguém a procurar o colágeno, não existe uma única resposta sobre a utilidade dos suplementos da proteína.
Tudo irá depender do motivo por que você quer tomar o suplemento, por quanto tempo você pode continuar tomando, do preço, se o colágeno é combinado com outros ingredientes e como ele poderá afetar outros aspectos da sua saúde.
“Nem todas as pessoas irão reagir aos suplementos de colágeno da mesma forma”, destaca Erskine, da Universidade John Moores em Liverpool.