A cirurgia para enxaqueca tem chamado atenção por oferecer alta taxa de melhora, reduzir ou até eliminar o uso de medicamentos e, com isso, diminuir os gastos mensais com medicação. Além disso, a doença é reconhecida por afetar a produtividade e, em muitos casos, afastar profissionais do mercado de trabalho.
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Quem convive com enxaqueca sabe dos prejuízos à qualidade de vida, ao bem-estar e à rotina diária, afetando tanto a esfera social quanto a profissional. Uma crise pode durar de 4 a 72 horas, enquanto dores de cabeça tensionais podem se prolongar por uma semana, acompanhadas de sintomas como dor intensa e pulsátil em um ou ambos os lados da cabeça, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz ou ao som.
“Conviver com isso é enfrentar crises sérias, que afetam a vida social e econômica do paciente. Mas hoje já existe uma maneira de diminuir as dores, reduzindo o uso de medicamentos, ou eliminá-las completamente. É a Cirurgia de Enxaqueca”, explica o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca dos EUA.
Segundo o médico, o procedimento é indicado para pacientes diagnosticados com migrânea por um neurologista que apresentem duas ou mais crises intensas por mês não controladas por remédios; para quem sofre efeitos colaterais das medicações ou tem intolerância a elas; ou ainda para aqueles que desejam o procedimento devido ao impacto significativo da dor na vida pessoal e profissional. A doença crônica afeta mais de 30 milhões de brasileiros, com maior incidência entre 20 e 45 anos.
O tratamento é pouco invasivo e tem como objetivo descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo e occipital, responsáveis pelos pontos de dor. “Os ramos periféricos destes nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressões das estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias. Isto gera a liberação de substâncias (neurotoxinas) que desencadeiam uma cascata de eventos responsável pela inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, que irão causar os sintomas de dor intensa, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz a ao som. A cirurgia libera estas compressões de maneira superficial e pouco invasiva”, detalha Dr. Paolo.
Além dos benefícios clínicos, há vantagens financeiras. “A cirurgia tem alta taxa de melhora, reduzindo ou até eliminando o uso de medicamentos, dessa forma diminuindo os gastos mensais com medicação. Além disso, enxaqueca é uma condição conhecida por diminuir a produtividade e afastar profissionais do mercado de trabalho”, afirma. Estudos publicados, como no “The Journal of Craniofacial Surgery”, mostram que o custo do procedimento é compensado rapidamente, pois a cirurgia é única, enquanto a medicação é contínua.
No tratamento conservador, sem cirurgia, são utilizados medicamentos como anti-hipertensivos, antidepressivos e antipsicóticos. Já um estudo da Harvard Medical School de 2021 demonstrou que a cirurgia de enxaqueca reduz significativamente a dor e a necessidade de remédios. “Esse trabalho comparou o uso de medicamentos no pré e pós-operatório de pacientes submetidos ao procedimento e constatou que mais de 2/3 deles diminuíram o uso de medicamentos prescritos, sendo que do total de pacientes que passaram pelo procedimento, 23% não precisaram mais tomar medicamento algum”, esclarece Dr. Paolo.
Segundo a pesquisa, antes da cirurgia, 96% dos pacientes utilizavam remédios para dor de cabeça. Após 12 meses do procedimento, 68% reduziram o consumo, e “os pacientes relataram uma redução de 67% no número de dias em que tomaram a medicação; além disso, metade dos pacientes relataram que a medicação para enxaqueca, após a cirurgia, os ajudou mais em comparação com o período pré-operatório”, destaca o especialista.
A enxaqueca também impacta o desempenho profissional. Estudo da Universidade de Copenhague apontou que a doença reduz a capacidade de lembrar, tomar decisões rápidas e realizar tarefas físicas exigentes. “Alguns estudos mostram que as dores de cabeça são a segunda causa mais comum de licença médica, superada apenas por doenças infecciosas. Portanto, os distúrbios da dor de cabeça carregam grandes custos pessoais e socioeconômicos. Além disso, nem sempre esses pacientes conseguem se manter empregados em razão das dores frequentes”, alerta Dr. Paolo.
O cirurgião reforça que as operações são realizadas em ambiente hospitalar, sob anestesia geral e, em alguns casos, anestesia local. “A duração da cirurgia, para cada nervo, pode variar de 15 minutos a duas horas, e o paciente tem alta no mesmo dia para casa”, finaliza.