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segunda-feira, abril 28, 2025

100 dias de Trump: Bolsas nos EUA têm pior início de governo desde a renúncia de Nixon, nos anos 1970

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Donald Trump prometeu aos americanos um “boom como nenhum outro” se fosse eleito presidente. Mas, com base no desempenho do mercado de ações durante seus primeiros 100 dias no cargo, isso depende do que se entende por “boom”.

A movimentação foi certamente explosiva — só que não da forma que os investidores esperavam. Em 30 de abril, Trump terá completado seus primeiros 100 dias de mandato. Apesar da recuperação da semana passada e da alta de 0,7% desta segunda-feira, o índice S&P 500 acumula queda de cerca de 8% desde sua posse e caminha para o pior desempenho nos primeiros 100 dias de um presidente desde Gerald Ford, em 1974, após a renúncia de Richard Nixon.

Foi uma reviravolta que poucos em Wall Street previram, depois de dois anos seguidos de ganhos superiores a 20% e de uma agenda que prometia ser pró-crescimento. Em vez disso, os mercados oscilaram violentamente enquanto Trump impunha tarifas a praticamente todos os países onde empresas americanas operam — para depois suspender algumas, fazer exceções para determinados setores e intensificar a guerra comercial com a China.

Essas perturbações, somadas ao esforço agressivo do governo para deportar trabalhadores imigrantes em situação irregular e às demissões em massa de funcionários federais, assustaram os investidores e levaram o S&P 500 à sua sétima correção mais rápida desde 1929.

— Foi um risco extremo, digno de livros didáticos, na sua forma mais pura— disse Mark Malek, diretor de investimentos da Siebert. — A volatilidade foi totalmente diferente de tudo o que já experimentamos no passado, espalhando-se indiscriminadamente por todos os setores e classes de ativos como um incêndio descontrolado, constantemente alimentado por declarações aleatórias e mudanças bruscas de políticas.

Os traders apostaram tudo na ideia de “America First” (América Primeiro, em tradução livre) logo após a vitória eleitoral de Trump, levando o S&P 500 ao maior ganho já registrado no período pós-eleição. A expectativa era que o governo reduziria regulações e cortaria impostos, o que impulsionaria o crescimento.

No entanto, o presidente concentrou-se na guerra tarifária, desestabilizando os mercados a cada novo anúncio de tarifas sobre parceiros comerciais.

— O que o elegeu foi o ‘Make America Great Again’ (Faça a América Grande de Novo), a promessa de que ‘a economia iria bombar’ — disse Eric Diton, presidente e diretor-gerente da Wealth Alliance. — Mas toda essa incerteza em relação ao comércio acabou prejudicando o crescimento econômico.

Efeito chicote atrás de efeito chicote

O S&P 500 perdeu mais de 10% em apenas duas sessões no início deste mês depois que Trump impôs, em 2 de abril, as tarifas mais altas dos EUA em um século. Uma semana depois, o índice disparou quando o governo voltou atrás e adiou a maior parte das tarifas por 90 dias.

Desde então, as ações têm oscilado, mas os traders têm tido dificuldade para encontrar uma direção clara. Os futuros do índice S&P 500 caíam 0,1% na manhã de segunda-feira, enquanto os mercados digeriam os desdobramentos mais recentes da política tarifária.

— Foi um efeito chicote atrás de outro, atrás de outro— disse Dave Lutz, estrategista macro da JonesTrading e veterano de 30 anos em Wall Street.

E Wall Street se prepara para mais volatilidade. De acordo com os dados mais recentes da CFTC divulgados na sexta-feira, os especuladores ampliaram suas posições líquidas vendidas em futuros do S&P 500 para o maior nível desde dezembro.

As quedas nas ações desde a posse de Trump, em 20 de janeiro, foram lideradas pelos setores de consumo discricionário e tecnologia da informação, com empresas como a fabricante de calçados Deckers Outdoor, a produtora de equipamentos para semicondutores Teradyne e a produtora de químicos especializados Albemarle entre as maiores perdedoras.

Outras companhias cujas ações têm sofrido incluem a fabricante de veículos elétricos Tesla, de Elon Musk, além de United Airlines, Delta Airlines e Norwegian Cruise Line Holdings.

Fabricantes de bens de consumo e o setor de semicondutores estão lidando com o risco de aumento de custos devido às novas tarifas, enquanto as empresas de viagens devem sentir o impacto caso os consumidores comecem a cortar gastos diante de um enfraquecimento da economia.

— Há danos irreparáveis. Tendência e momentum são extremamente importantes no mercado de ações e refletem o sentimento dos investidores. Infelizmente, essas coisas são muito difíceis de reverter quando a queda é tão rápida— disse Malek.

O posicionamento em ações permanece próximo do fundo de sua faixa histórica, segundo dados do Deutsche Bank AG, cujos estrategistas, na semana passada, desistiram das previsões de um grande avanço do S&P 500 neste ano.

Enquanto isso, estrategistas do Bank of America Corp. alertaram na sexta-feira que faltam condições para uma recuperação sustentada do mercado de ações e incentivaram os investidores a vender durante o recente rali nas ações e no dólar americanos. Segundo o Goldman Sachs, investidores estrangeiros já captaram a mensagem e vêm se desfazendo de ações americanas desde o início de março.

Há uma palavra que os gestores de fundos usam para resumir os planos comerciais de Trump e seu impacto no mercado de ações: incerteza.

— Continuamos sem saber exatamente o que estamos tentando alcançar com o Vietnã, o Canadá ou a Europa, e não temos ideia de como seria um cenário de sucesso —disse Paul Nolte, estrategista de mercado e gestor sênior de patrimônio da Murphy & Sylvest Wealth Management.

Essa falta de clareza levou os investidores a adotarem uma postura mais defensiva, cautelosos com possíveis falsas sinalizações e preferindo esperar à margem até que surjam detalhes mais concretos sobre as políticas. Mas esse não é o único risco.

— Precisamos superar essa nuvem de incerteza em torno da política comercial, pois ela está impedindo as empresas de realizar investimentos em capital e planos de contratação, e também pode reduzir os gastos dos consumidores — disse Eric Sterner, diretor de investimentos da Apollon Wealth.

Segundo David Lefkowitz, chefe de ações dos EUA na divisão de gestão de patrimônio global do UBS, uma desaceleração econômica induzida por tarifas, juntamente com os custos mais altos associados a ela, vai limitar o crescimento dos lucros. Ele prevê que os lucros das empresas do S&P 500 ficarão estagnados este ano.

A temporada de resultados do primeiro trimestre está mostrando que a Corporate America também está no escuro. As empresas estão retirando projeções, revisando para baixo suas expectativas de lucros e recorrendo a soluções incomuns para lidar com a volatilidade. Por exemplo, a United Airlines divulgou dois conjuntos de projeções de lucro: um se tudo permanecer estável e outro se a economia entrar em recessão.

— Se olharmos para as recessões, elas começam pelas empresas — primeiro, elas param de contratar, depois começam a demitir, e então param de gastar dinheiro — disse Malek, da Siebert.

Ele está buscando oportunidades em ações de crescimento de alta qualidade que foram penalizadas, mas acrescentou que está comprando de forma cautelosa.

A pesquisa mais recente da Bloomberg com economistas mostrou que os analistas esperam que a guerra comercial prejudique o crescimento econômico este ano e no próximo, à medida que os preços sobem e os gastos dos consumidores diminuem.

Jim Worden, diretor de investimentos da Wealth Consulting Group, está de olho em ações dos setores de saúde, financeiro e de bens de consumo básicos, além de papéis que foram excessivamente penalizados durante a recente onda de vendas.

Enquanto isso, James Abate, chefe de estratégias fundamentais da Horizon Investments, afirmou que a empresa está comprando ações de bancos regionais. Segundo ele, este é “um ambiente ruim para a participação em índices, mas potencialmente uma oportunidade para gestores ativos provarem seu valor.”

Ainda assim, Wall Street continua abordando o mercado de ações com cautela. Afinal, ninguém sabe o que os próximos 100 dias trarão.

— Não superamos a turbulência, e não acho que iremos superá-la tão cedo. Trump é quem ele é — disse Diton, da Wealth Alliance.

[Fonte Original]

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