18.6 C
Brasília
domingo, maio 25, 2025

Crítica | A Saga do Punho Vermelho – Livro 1 – Plano Crítico

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Depois de Reinado do Demônio fechar quase todas as pontas soltas do sexto volume da série do Homem Sem Medo, o sétimo volume, também com Chip Zdarsky à frente, é uma bola curva total, saindo de Hell’s Kitchen para dar início a uma guerra profética contra A Mão, algo que vinha sendo insinuado desde o aparecimento surpresa de Elektra para ajudar o Demolidor em sua fase deprê pós-assassinato acidental de um bandido. É refrescante ver uma história do personagem longe do bairro nova-iorquino, ainda mais depois de um volume inteiro condensado em diferentes aspectos do local. Também é refrescante um tom narrativo diferente, com elementos místicos e um escopo maior para uma HQ do Demolidor, ainda que, claro, uma certa pontinha do fã interior prefira tramas autocontidas e de menor escala para o herói urbano.

E Zdarsky não vem para brincadeira, com um arco inicial que tem sim diversos elementos introdutórios, inclusive terminando a quinta edição em uma espécie de finalização de prólogo para o efetivo início da guerra contra a organização de zumbis-ninjas nas próximas edições, mas que joga o leitor de cabeça em uma premissa fantasiosa e absurda com a apresentação de Robert Goldman, um antigo amigo de faculdade de Matt que tem poderes de manipulação de eventos através de uma voz divina. O personagem acredita ser um anjo da guarda, controlando partes da vida do herói ao longo dos anos. Ainda não sei como me sinto em relação ao retcon, tampouco formei uma opinião completa de Goldman enquanto antagonista/coadjuvante, mas certamente é um conceito ousado e diverso do que o autor vinha fazendo até aqui, sem falar que a tensão e o suspense da ação nesse bloco é palpável.

O que mais me chama a atenção em termos de roteiro nessa abordagem inicial é a conexão de temas como divindade, fé, destino e messianismo em torno do Demolidor, todos elementos que, apesar de místicos, se conectam facilmente com os dramas e conflitos da culpa católica e do senso de grandeza do protagonista, algo que vemos bastante à medida que Matt se torna um líder de um exército que pode perigosamente se tornar uma seita (tudo que o ego dogmático e moralista do protagonista não precisa…). Gosto da forma como a estrutura do começo do arco mescla a despedida do Demolidor de Hell’s Kitchen – incluindo ótimas participações do Homem-Aranha, da Kirsten e do Butch – com pequenos blocos de eventos futuros que insinuam problemas na trajetória profética do grupo capitaneado por ele e Elektra. Particularmente, aprecio aquela diagramação que lembra interrogatórios, dando um tom inquisitivo para os diálogos de um Demolidor barbudo que parece ter passado por um inferno, além da dinâmica visual com flashbacks ao final das edições com artistas diferentes.

Mesmo com uma abordagem diferente, Zdarsky segue homenageando o cânone da série, trazendo Stick em uma presença importante e dando uma mexida no status quo do relacionamento entre Matt e Elektra com um casamento que fede a manipulação (não esqueçamos que, segundo a profecia, um dos dois deve morrer). Essa primeira parte serve de estabelecimento, então certos momentos da trama são mais contextuais e de preparação (explicações da profecia, recrutamento de soldados, organização narrativa, etc), o que é compreensível, mas a leitura tem um tom de aventura global que é gostoso de ler, com toques de misticismo que dão corpo para uma narrativa milenar cheia de segredos que absorvem a atenção do leitor. A arte sempre chamativa de Marco Checchetto ajuda na construção de lore e na atmosfera da HQ.

O ato final do arco com a libertação de vários presos levantou uma série de dúvidas, passando pelo propósito da missão, a mudança de pensamento de Matt sobre a lei e qual será a participação dos Vingadores na história (confesso que preferiria algo mais hermético, sem a presença do Cap., Tony e cia., mas veremos). Uma linha de ambiguidade moral parece perseguir os atos dessa nova jornada do Demolidor, que tem tudo para ser uma leitura excelente. Do uso de A Mão como antagonista (com destaque para a ardilosa Aka), da introdução de uma profecia em torno da dupla principal, de uma aventura em escala global (e divina), e, por fim, de um dilema messiânico para um personagem que há décadas tem dúvidas sobre fé, A Saga do Punho Vermelho tem um início agradabilíssimo que promete bastante, mesmo entre algumas escolhas estranhas que, quem sabe, podem funcionar.

A Saga do Punho Vermelho – Livro 1 (The Red Fist Saga – Part 1) — EUA, setembro de 2022 a janeiro de 2023
Contendo: Daredevil – Vol. 7 #1 a 5
No Brasil: Demolidor 4ª Série – n°9 (Panini, abril de 2023)
Roteiro: Chip Zdarsky
Arte: Marco Checchetto, Rafael de Latorre
Cores: Matthew Wilson
Letras: Clayton Cowles
Editoria: Devin Lewis, C.B. Cebulski, Tom Groneman
Editora: Marvel Comics
148 páginas



[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img