18.6 C
Brasília
domingo, maio 25, 2025

De Ondas aos Negócios: a História do Rum Artesanal da Vida Canã

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img


Rachel Benavides

Bryan Tierce e Jonathan Fuller fundaram da Vida Caña Rum em 2019

Acessibilidade








 

 

Poucas marcas começam com um aperto de mão na praia ou com um plano de negócios rabiscado entre uma sessão de surfe e outra. Mas, por outro lado, poucas são como a Vida Caña, empresa americana de rum artesanal.

Nascida de uma amizade forjada no setor de logística de transporte e alimentada por viagens de surfe e uma paixão em comum pelo rum, a Vida Caña é a criação de Bryan Tierce e Jonathan Fuller. Após anos dedicados a construir – e eventualmente vender – sua empresa de logística, a dupla decidiu que o próximo capítulo não teria a ver com embarques, e sim com realização pessoal.

“Quando deixamos o negócio, dissemos a nós mesmos que o próximo projeto teria que ser divertido”, diz Fuller. Essa “diversão” tomou a forma do rum, algo que os dois passaram a apreciar durante frequentes viagens a trabalho pela América Central, América do Sul e Caribe. A bebida estava sempre presente – seja em coquetéis à beira-mar ou nos momentos de relaxamento após o surfe, já que sempre levavam suas pranchas com eles.

Tierce, que havia passado uma década no setor de bebidas alcoólicas antes de entrar para a logística, hesitou no começo. “Eu já tinha visto como essa indústria pode ser difícil”, disse ele. “Mas também sabia que, se voltasse um dia, queria estar do lado da propriedade, construindo algo em que acreditasse”.

O que veio a seguir foi um processo gradual – cinco anos de pesquisa, aprendizado e exploração. Em 2015, eles se matricularam na Moonshine University, escola de destilação localizada em Kentucky, nos Estados Unidos, e na The Rum University, instituição educacional especializada em rum, no Texas (EUA).

Vida Canã

A linha principal de runs da Vida Caña

A dupla degustou, testou e construiu relações com produtores do mundo todo. E tomaram uma decisão fundamental logo no início: não iriam destilar. “Não fazia sentido investir milhões em uma destilaria para ficarmos presos a um único estilo, a uma única região”, afirmou Tierce. “Queríamos a flexibilidade de encontrar runs incríveis e contar suas histórias por meio de blends e acabamentos”.

A Vida Caña foi lançada oficialmente no fim de 2019 na Costa do Golfo dos EUA, onde ambos os fundadores vivem. O momento não foi ideal — poucos meses depois, a pandemia paralisou a indústria de bebidas. Mas eles aproveitaram essa pausa para refinar seus processos e crescer de forma orgânica. “Não queríamos nos precipitar”, disse Tierce. “Cometemos nossos primeiros erros em casa, com amigos, familiares e pessoas que entendiam o que estávamos tentando fazer”.

No coração da Vida Caña estão quatro runs principais, cada um proveniente de diferentes regiões produtoras e escolhidos por seus perfis distintos. A linha abrange blends da América Central, América do Sul, Caribe e Caribe-Americano, pensados tanto para coquetéis vibrantes quanto para momentos de degustação contemplativa. “Até usamos cores diferentes nos rótulos para evocar o momento do dia em que imaginamos cada rum sendo apreciado”, contou Tierce. “Do céu claro às noites escuras”.

A versão com dois anos de envelhecimento é a versátil, feita para misturas. Engarrafada com 46% de teor alcoólico, ela foi pensada para se destacar nos coquetéis tropicais sem desaparecer em meio aos sucos de frutas. Já as expressões de oito e nove anos — com idade real — oferecem uma complexidade mais profunda. “Passamos muito tempo ajustando o sabor”, disse Fuller. “Sentávamos à mesa da cozinha para fazer blends e testes de graduação alcoólica, entendendo o que funcionava ou não”, conta.

Mas onde a Vida Caña realmente encontrou seu caminho criativo foi no teste de acabamento em barril único, um projeto que começou quase por acidente, que deu origem ao “Single Barrel Finishing Series Panama 18 Year Rum Finished in a Bourbon Barrel”. Um amigo lhes ofereceu um barril usado de bourbon Four Roses, renomada marca americana, no início da empresa, e eles decidiram finalizar seu rum do Panamá de 18 anos nele.

Dezesseis meses depois, engarrafaram — e ele sumiu das prateleiras quase instantaneamente. “Foi ali que tudo acendeu”, contou Tierce. “Os lojistas começaram a ligar perguntando: ‘Vocês conseguem fazer isso de novo?’”.

Desde então, o projeto cresceu de um barril para 18. Nesse percurso, eles começaram a colaborar com outras destilarias artesanais, lançando edições co-branded que contam duas histórias — a do rum e a do barril que o moldou. Já trabalharam com nomes como OKI Bourbon, Dettling Bourbon, Rebecca Creek e Fierce Whiskers, com mais parcerias a caminho.

Vida Canã

O premiado Rum Panamá Vida Caña com 18 meses de idade.

O acabamento mais inusitado até agora? Um barril de tequila Don Julio Reposado. “Isso adiciona uma camada de caráter de agave que surpreendeu muita gente”, disse Tierce, rindo. “Nós servimos, depois vinha aquele silêncio, e aí a pessoa dizia: ‘Não sei o que estou sentindo, mas gostei.’ É isso que queremos provocar”.

Em 2024, todos os acabamentos da série Single Barrel foram lançados em cask strength — cerca de 65% de teor alcoólico — para proporcionar ao consumidor uma experiência completa e sem filtros. “Estamos aprendendo”, disse Tierce. “Alguns talvez sejam diluídos no futuro, dependendo de como evoluem. Mas gostamos de oferecer primeiro a versão bruta.”

Eles claramente acertaram: o Single Barrel Finishing Series Panama 18 Year Rum Finished in a Bourbon Barrel foi eleito o Melhor da Categoria: Rum Overproof na edição 2024 do San Francisco World Spirits Competition, uma das competições mais prestigiadas e influentes do setor de bebidas alcoólicas.

O que diferencia a Vida Caña não é apenas o blend ou os acabamentos — é a intenção por trás de tudo. Eles financiaram o negócio com recursos próprios desde o primeiro dia, e cada garrafa vendida inclui uma doação para organizações sem fins lucrativos locais. A dupla começou apoiando uma entidade e hoje já são quatro.

“Estamos construindo algo de que temos orgulho”, disse Fuller. “Isso começou como um projeto de paixão, mas também se tornou um projeto com propósito”.

Eles ainda não têm uma sala de degustação sofisticada — pelo menos por enquanto. Operam com a licença da Aerodrome Distilling, em Corpus Christi, no Texas, que lhes fornece o espaço e as conformidades necessárias para finalizar barris e fazer experimentações. Algumas das edições limitadas estão disponíveis por lá, mas ainda não é possível ver um letreiro grande da Vida Caña. Isso é intencional.

“Ainda estamos tentando entender como seria uma sala de degustação da Vida Caña”, contou Tierce. “Mas, por enquanto, estamos mais focados em fazer o trabalho, produzir um bom rum e crescer da maneira certa”, diz.

Para dois caras que antes transportavam cargas através de fronteiras, eles encontraram um tipo muito diferente de realização — que vem dentro de uma garrafa, envelhecida em carvalho e feita para ser degustada lentamente. Por enquanto, é possível encontrar o rum deles no Texas, Flórida e Utah, ou no site da marca, que realiza entregas para 47 estados.

* Hudson Lindenberger é colaborador da Forbes EUA, onde escreve sobre cerveja, vinho, destilados e gastronomia.



[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img