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quinta-feira, dezembro 18, 2025

Crítica | Avatar: Fogo e Cinzas (Sem Spoilers) – Plano Crítico

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Sei que já disse isso no começo de minha crítica de Avatar: O Caminho da Água, mas vou me permitir reiterar: James Cameron é um fantástico diretor de blockbuster que não deveria de forma alguma ficar enfurnado em apenas uma franquia cinematográfica por tanto tempo. Eu sem dúvida admiro a obsessão dele de contar sua história épica em Pandora em sei lá quantos filmes, mas eu só fico imaginando quantas outras maravilhas ele poderia ter colocado nas telonas se ele tivesse enveredado por outros caminhos depois de 2009, quando lançou o primeiro Avatar, entregando as continuações para outros cineastas sob sua supervisão geral.  Dito isso, apesar de a aplicação da Lei dos Retornos Decrescentes ser inevitável neste terceiro capítulo das aventuras de Jake Sully (Sam Worthington), Neytiri (Zoe Saldaña) e família, Cameron mais uma vez entrega um belo espetáculo de computação gráfica que definitivamente merece uma visita aos cinemas com a maior tela e melhor som possíveis para uma baita experiência cinematográfica.

Entre o primeiro e segundo capítulos do épico sci-fi ambientalista, tivemos o benefício de um intervalo de 13 anos que, de um lado, foram usados por Hollywood para deturpar completamente o uso do 3D com “conversões” abissalmente ruins e, de outro, foram empregados por Cameron para aperfeiçoar seu já impressionante trabalho de computação gráfica, especialmente no departamento de captura de performance. Se Avatar foi um salto de qualidade em relação à média do CGI usado até sua estreia, O Caminho da Água representou outro grande salto, mas, agora, apenas três anos depois, o incremento qualitativo é definitivamente mais discreto, além de o fator novidade ter também diminuído. Por outro lado, tenho para mim ser injusto exigir evoluções tecnológicas significativas nessa seara ou mesmo culpar o novo longa pela relativa “falta de novidade”. Afinal, o que há de franquia por aí que só faz exatamente a mesma coisa toda vez e é recebida com efusividade pelo público não está no gibi.

James Cameron é, por excelência, um contador visual de histórias, o que significa que ele é capaz de transformar premissas básicas em roteiros simples e eficientes (que passam longe, mas muito longe de serem ruins) que, por sua vez, ele converte em desbundes sensoriais. Em Avatar: Fogo e Cinzas, a grande novidade é o clã Mangkwan, liderado pela feroz, violenta e assustadora Varang (Oona Chaplin), e que justifica o subtítulo escolhido em razão de esses Na’vi viverem à sombra de um vulcão em uma terra cinza, estéril, empobrecida, sem vegetação alguma, com a população sendo especialmente magra mesmo em comparação com os esbeltos exemplares que já conhecíamos e que imediatamente explica o fato de eles serem saqueadores de comerciantes incautos com sensacionais ataques aéreos que lembram uma esquadrilha da fumaça. E é um desses ataques dos Mangkwan que serve de gatilho narrativo para o filme, já que o alvo é uma embarcação aérea do Povo do Vento que por acaso transporta Jake e família – ainda sofrendo e aprendendo a lidar com a trágica morte de Neteyam – de volta ao acampamento base deles para levar Spider (Jack Champion) para lá em razão de ele ter quase morrido na noite anterior por uma falha em sua máscara de oxigênio.

De uma tacada só, aprendemos sobre dois novos clãs, sobre um Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang) levemente mais relutante e compreensivo e, principalmente, sobre o começo da jornada de autodescoberta de Kiri (Sigourney Weaver) em razão de sua origem quase mística, depois que ela salva a vida de Spider usando conhecimentos que ela não sabe de onde vieram. Sendo honesto, exatamente aquilo que esperamos que acontece, efetivamente acontece, pois o roteiro não tenta esconder surpresas e tenho para mim que nem deveria mesmo. O filme é genuinamente fascinante enquanto foca nos Mangkwan, especialmente em Varang, claro, que se sente preterida pela entidade protetora do planeta, guardando rancor de todos aqueles que fazem comunhão com ela por meio de seus conectores capilares e desejando, mais do que qualquer outra coisa, infligir dor em terceiros, o que naturalmente a aproxima de Quaritch. Acrescentar um grupo de Na’vi particularmente brutal na mesma sopa de inimigos humanos é definitivamente uma boa ideia e afasta aquela impressão de que os habitantes humanoides de Pandora são todos “hippies paz e amor”.

Também gostei muito que Kiri e Spider passaram a ganhar destaque e desenvolvimentos efetivos, com Lo’ak (Britain Dalton) e a culpa que sente pela morte do irmão e sua conexão fraterna com Payakan, o Tulkun rejeitado por sua espécie, também tendo bom espaço para ser mais do que o adolescente turrão que quer se provar para o pai. Como em O Caminho da Água, portanto, Cameron mostra preocupação com a “nova geração”, evitando transformá-la em coadjuvante de luxo para Jake e Neytiri tomarem todo o tempo nobre de tela. Aliás, é notável que o roteiro não só mantenha o clã aquático Metkayina em destaque, com também os Tulkuns que se revelam ainda mais complexos do que mostrado anteriormente, deixando ainda mais evidente a preocupação ambiental que o diretor sempre demonstrou ter. Falando em deixar evidente, se a franquia Avatar nunca foi exatamente sutil em sua abordagem antibelicista, anticolonialista e ambientalista, em Fogo e Cinzas todo e qualquer véu que ainda restava é completamente retirado, com Cameron abordando textual e visualmente essas questões a ponto de descambar para o didatismo que só realmente não incomoda por ele ser relativamente esparso na comparação com a duração do filme e pelos visuais realmente valerem a pregação. Aliás, nos dias de hoje em que a desinformação é o novo normal, um pouco de didatismo sobre assuntos relevantes como esses ajudam, sendo bem sincero, por mais que o grupo do “ai, lá vem o filme falar de política” vá reclamar como sempre.

No entanto, o combate final desse terceiro capítulo foi um tanto quanto déjà vu em relação ao de O Caminho da Água, com um incômodo “fim sem fim” para Quaritch e Varang, quase como se Cameron tivesse que acabar o filme e não tinha mais tempo para nada. Mas o que chegou a ser alarmante na categoria de conveniência de roteiro e que poderia muito facilmente ter sido evitado foi o uso de um personagem completamente aleatório, introduzido tardiamente e usado por não mais do que dois ou três minutos, como peça-chave de um salvamento importantíssimo no filme. Imagine se, em Titanic, Rose fosse salva pelo violinista da banda e não por Jack, pois é algo nesse nível que inexplicavelmente acontece aqui, dando impressão que Cameron errou na decupagem, só se tocou no final da pós-produção, e teve que correr para inventar uma nova cena que não precisasse usar o restante do elenco.

Avatar: Fogo e Cinzas é outra prova de que, no que se refere a filmes-espetáculo, James Cameron é quase sem paralelo na indústria audiovisual moderna. E é exatamente por isso que o cineasta que inaugurou tanto o Clube do Bilhão quanto o Clube dos Bilhões na bilheteria poderia se dar ao luxo de deixar Pandora um pouco de lado e usar sua mente fervilhante para nos brindar com outros deslumbramentos audiovisuais. Por outro lado, mesmo considerando que a franquia Avatar inevitavelmente sofre do mal de qualquer coisa oferecida em excesso, a imersão que o cineasta oferece em seu mundo digital multicolorido é uma delícia e mais do que vale a experiência.

Obs 1: Não há cenas no meio ou no fim dos créditos.

Obs 2: Eu odeio 3D, mas o 3D de James Cameron é, obviamente, diferenciado e merece o esforço. E, claro, aos que viverem em cidades com telas IMAX (ou outras de formato mais avantajado), vejam dessa forma, pois é de outro mundo.

Obs 3: Sim, há um teaser muito esperado antes do filme, mas eu não o vi (fui com minha filha e foi ela quem me confirmou isso).

Avatar: Fogo e Cinzas (Avatar: Fire and Ash – EUA, 2025)
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron, Rick Jaffa, Amanda Silver (baseado em história de James Cameron, Rick Jaffa, Amanda Silver, Josh Friedman, Shane Salerno)
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldaña, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Oona Chaplin, Cliff Curtis, Britain Dalton, Trinity Bliss, Jack Champion, Bailey Bass, Kate Winslet, Giovanni Ribisi, Joel David Moore, CCH Pounder, Edie Falco, Brendan Cowell, Jemaine Clement, Filip Geljo, Duane Evans, Jr., Dileep Rao, Matt Gerald, David Thewlis
Duração: 197 min.



[Fonte Original]

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